23 outubro 2007

(In)Constante


Chove.
O guarda chuva só protege a raiz dos cabelos desbotados.
Faz frio.
Nariz gelado.
O vento sopra forte.
Fios eriçados.
No momento seguinte o calor impõe o uso de roupas frescas e banho frio.
Nenhuma folha se move.
A beleza do céu azul machuca a retina.
Mãos ágeis, pernas pesadas.
Tudo em volta é efêmero, mutante, intenso.
Por dentro só duas coisas: o amor que não muda e a dúvida que persiste.
Melhor é ter o tempo como aliado.

Vívian Marchezini Cunha - 23 de outubro de 2007

Imagem: The Walk, Woman with a Parasol, Claude Monet 1875

12 outubro 2007

Eu confio?



Feriado, finalmente algum tempo em casa e, melhor ainda: sozinha. Quando se passa cada hora do dia com outra pessoa (ou outras), um tempinho de solidão vale ouro...

Na minha solidão, coloquei no dvd o filme Premonições, com Sandra Bullock. Meus amigos sabem o quanto filmes me fazem pensar sobre minha vida (algumas vezes até estimulam algumas decisões). Com este não foi diferente.

O filme conta a história de Linda, uma dona de casa, mãe de duas meninas, casada há alguns anos com o homem que ama, mas com quem já não tem uma relação próxima. Um dia Linda acorda e recebe a notícia que seu marido morreu. No dia seguinte ele não está morto... Ao perceber que está vivendo os dias fora de ordem, Linda se vê diante de um problema: tentar evitar a morte do marido e construir uma nova relação com ele ou deixá-lo morrer e viver a partir daí uma nova vida?

Linda sabe o que vai acontecer, e sabe mais ou menos quando. Sabe que do jeito que estava vivendo não quer mais continuar. Não sabe o que pode acontecer depois: se será feliz, se dará conta sozinha, se conseguirá viver diferente, um novo relacionamento. Sabe que o que viveu no passado não pode voltar a acontecer, os tempos agora são outros. Mas como ela gostaria que fosse possível!

Não quero fazer spoiller, e acho até que não seria, já que o filme não é tão recente. Enfim, Linda abre o jogo com o marido, que então muda alguns aspectos em sua maneira de se relacionar com Linda, toma algumas decisões que preservam a relação e que garantem o futuro deles.

O filme fala de cuidar do presente, do agora. Mudar agora a relação com o outro, com o mundo, com a própria vida. Talvez isso não mude o que está para acontecer, mas mude a maneira de vivenciar o caminho até lá e, quem sabe, plantar algo diferente para o futuro.

Isso está borbulhando na minha cabeça, no meu coração. Será que ainda há o que fazer? Será que o evento é mesmo inevitável? Que tipo de coisa diferente pode ser plantado para o futuro? Tenho tanto medo que só consigo pensar no pior.

Preciso de mais fé...

10 outubro 2007

Sentir com outros



Amenizado o incômodo com a tal pulga atrás da orelha de ontem (na verdade, liguei o f.... para ela e quem tratou de colocá-la lá), volto aqui para dizer o que já queria antes: sobre o amor que sinto por algumas pessoas. Citarei alguns exemplos:

No último domingo recebi a notícia da vitória do André no Festival do CCAA, em Belém. Ele e sua banda Bate a Campa concorriam com várias bandas (não sei ao certo quantas, quase 20) a um prêmio muito significativo: a possibilidade de gravar um cd! E o André venceu! Fiquei super feliz por isso, por tudo o que essa vitória representa na carreira do André, na realização de um sonho que, como já disse antes, é lindo. O André é um músico super talentoso, merece tal realização.

Pude observar, a partir da minha reação a uma conquista que é do André, que é, sim, possível ser solidário na felicidade alheia. Não sei se a palavra é exatamente essa. Deixe-me explicar melhor... Neste caso específico, não sei em que medida a vitória produz mudanças em minha vida. Nada indica que a partir desse prêmio ele estará mais próximo ou mais distante de mim, ou seja: não tenho nada a ganhar com isso. No entanto fiquei feliz como se fosse eu mesma a vencedora.

É isso, talvez a palavra correta seja empatia, e não solidariedade.

É o que ocorre quando fico preocupada diante das buscas da Chris por bem estar; quando sinto dor quando leio os relatos de solidão da Mi (aliás, já até chorei junto com a Mi ouvindo-a contar seus sentimentos. Lembra, Mi?); quando me enchi de felicidade ao ver os olhos apertadinhos da Kaori se apertarem ainda mais pelo enorme sorriso no rosto, durante seu casamento; quando senti um enorme bem estar ao ver Carmen cantando para seu amado, realizada, na festa de casamento mais internacional e musical que já vi...

E muitos outros etcs!

A empatia é uma habilidade que o psicólogo precisa desenvolver, para que possa realizar bem seu trabalho. Ao se colocar no lugar do outro (entrando em contato com as contingências que controlam o comportamento do outro) estando ao mesmo tempo no seu próprio lugar, o psicólogo consegue se aproximar do que esse outro sente e buscar referências externas para o próximo passo a seguir.

Sei que essa é uma habilidade que não é exclusiva do psicólogo, mas essencial para ele. E sei também que não sou psicóloga em tempo integral. Mas uma coisa é certa: sou empática em tempo quase integral...
Obs: Buscando imagens para ilustrar este post, descobri um outro blog falando coisas muito semelhantes sobre empatia!
Imagem: Nela Vicente - Empatia

09 outubro 2007

Desisti



Eu ia escrever um monte de coisas bonitas aqui... Mas vi em outro lugar uma imagem da qual não gostei muito. Deixo a beleza pra depois. Vou estudar, pra ver se a pulga que está atrás da minha orelha para de me incomodar.
Desculpem...

Imagem deste site.

01 outubro 2007

Cor de rosa-choque ou cinza?



Tenho me sentido meio estranha nos últimos cinco dias. Pensativa, irritadiça, emotiva, com uma sensação de arrependimento, de inveja do que eu já fui, do que eu não sou (ainda), de tristeza por mais uma vez me dar conta que algumas coisas eu não posso viver agora - e talvez não possa viver nunca.

Parte dessas sensações eu atribuo à TPM. Não tem jeito: eu fico mesmo mais sensível "naqueles dias". Estou implementando algumas mudanças que, espero, venham a sanar essa situação mensal.

Por outro lado percebo que nos últimos tempos tenho criado algumas expectativas sobre determinados aspectos da minha vida. E se por algum tempo tais expectativas me fizeram bem, agora têm me feito mal, pois uma coisa com a qual ainda não consigo lidar muito bem, admito, é a frustração. E minhas expectativas são tão altas que estou frustrada antes mesmo do evento frustrante acontecer.

Ai, como eu sou complicada!

O fato é que tenho sentido minha "aura" de tristeza aumentando. Isso me dá medo, pois sei o quanto ela pode ser grande e persistente. E agora eu entendo quando os pacientes relatam a presença de um "fantasma": o da volta da doença.

Estou me cuidando para que isso não ocorra, mas sinto que preciso intensificar meus cuidados e focar em outros aspectos.
Imagem: Edvard Munch - Manhã (data?)