24 setembro 2007

Sol de primavera abre as janelas do meu peito



Eis que chegou a primavera, finalmente! Tempo de calor agradável, muitas flores pelas árvores e pelo chão, céu azul de brigadeiro (como diria o meu pai), tudo parecendo renascer após o recolhimento compulsório do inverno. Não, eu não moro num país de inverno rigoroso e de neve, mas os 20 graus habituais do inverno belo-horizontino já são suficientes para me transformar na pessoa mais rabugenta que conheço.

Então, viva a primavera!!!

Para celebrar a chegada da nova estação, ontem fiz algo que queria há muito tempo e sempre arrumava uma desculpa: fui caminhar em volta da Lagoa da Pampulha. Dia lindo, sol escaldante, cores, cheiros, sons, pessoas, animais, a linda imagem da lagoa, que além de *reforçadora em si*, evoca muitas lembranças agradáveis, daquelas que estão no fundo do coração e não vão sair nunca.

"Pula!!!"

E após uma hora e seis quilômetros de caminhada (com direito a trechos de corrida), voltei pra casa cheia de energia, renovada, direto para um banho frio perfeito. A sensação é de ter acordado para a vida. E tudo o que eu fiz foi utilizar os recursos que eu tinha à mão. Podendo ter tido um dia chato, escolhi ter um dia muito agradável, tendo a mim mesma como personagem principal num cenário especialmente preparado por Deus.

E é por isso que eu digo: a vida é boa pra quem sabe viver!
Imagem: minha mesmo! :) Vívian Marchezini, 2007

17 setembro 2007

Despedidas



Há mais de cinco anos minha vida é marcada por chegadas e partidas. Lágrimas de alegria, lágrimas de tristeza, saudade antecipada, alívio pela saudade a ser devidamente morta por momentos alegres, especialmente corriqueiros.

Em minhas andanças, algumas partidas são especiais. Minha primeira partida, em 07 de março de 2002, marcou minha entrada definitiva na vida adulta. Coincidentemente, um dia antes do Dia da Mulher. Abre parênteses: fiquei *mocinha* um dia após o dia das crianças... simbólico, né? Fecha parênteses.

Naquele março de 2002 eu viajava para Belém pela primeira vez, rumo a uma vida que eu desejava, mas não fazia a menor idéia de como seria, até porque a única pessoa que eu conhecia na minha nova cidade era o meu orientador. No aeroporto, família, amigos, todos com o coração apertado, lágrimas e sorrisos no rosto. Um lindo cartão com algum dinheiro dentro (acho que um dos presentes mais carinhosos que já recebi de amigos), muitas recomendações de juízo e a certeza de que a porta de casa estaria aberta pra mim sempre, sob qualquer circunstância.

No avião eu chorava, morta de medo, de excitação, de curiosidade, de incerteza, de saudade da pequena Clara, de 6 meses apenas, minha paixãozinha abdicada em favor do sonho de fazer um mestrado e do cumprimento da promessa que fizera a mim mesma cinco anos antes: não ser uma profissional medíocre.

Várias despedidas se sucederam, em BH, quando vinha de férias e tinha que voltar para meu trabalho em Belém; em Belém, quando me rebelei contra a falta de respeito e em favor do amor próprio no final de 2004, já *mestre* e de novo apaixonada, desta vez por uma pessoa muito mais especial; de novo em BH, quando abri mão do conforto e da segurança da casa dos meus pais para ousar ser feliz com essa tal pessoa especial, sem ter certeza de quase nada, só de que eu merecia muito ser feliz.

Finalmente vim embora novamente, para BH, talvez na pior despedida de todas, em julho de 2006. De novo eu apostava no amor próprio, mas desta vez sem me rebelar contra nada, apenas muito pesarosa da maneira como as coisas se desenrolaram. Sei que esta foi a pior despedida porque era a única que eu realmente não queria, apesar de considerá-la necessária naquele momento.

No último sábado eu estava na rodoviária de São Paulo, vindo embora após um dia inteiro de curso. Ninguém para se despedir de mim. Nada sendo deixado para trás. Naquele momento éramos eu, minha mochila e meu olhar, agora seco, observando as despedidas alheias. Impossível não lembrar de minha última despedida, ali naquela mesma rodoviária, aguardando o mesmo ônibus, tentando sentir os últimos momentos da pele macia, do calor, do cheiro, vendo pela última vez o olhar da pessoa especial. Era 25 de março de 2007. Em meio à minha maior vivência carpe diem (viva cada momento como se fosse o último), tudo que eu pensava era "não quero mais me despedir".

Interessante que lembrar desses momentos de despedida produz em mim sentimentos de tristeza, mas não só... Serenidade e aceitação parecem se misturar a incômodo e desapontamento, esperança de viver situações diferentes, de realmente não voltar a viver despedidas dolorosas como essas últimas. Esperança de estar me despedindo a cada momento das tristezas que insistiam em me acompanhar há tanto tempo, e de só permitir agora que coisas boas me aconteçam...

Imagem: Edward Hopper - Compartimento C, Vagão - 1938