28 outubro 2008

Mais sobre o vazio



Pensando sobre o tal vazio cíclico contra o qual já devo ter estratégias...

Talvez esse vazio volte nos momentos em que percebo mais claramente que não estou vivendo a vida que gostaria, uma vida até possível, mas cuja ocorrência não depende exclusivamente de mim. Embora seja geralmente rotulada como calma e paciente, me percebo cada vez mais impaciente com situações que me dizem respeito, mas sobre as quais não tenho controle.

Neste momento minha vida afetiva está um caos. Logo ela, que eu considerava tão tranqüila até 15 dias atrás. De fato, nada mudou. Simbolicamente, muita coisa está diferente. Está ainda mais claro que meu desejo não é solitário. Estou ainda mais nas mãos do outro.

Odeio me sentir dependente assim. Vivo dizendo que a felicidade é não depender de ninguém, mas não consigo (não agora) não esperar que o outro se decida e venha me fazer feliz. Não consigo (não agora) ser feliz sem ele. Não consigo não temer que ele leia essas palavras e fuja com medo da responsabilidade - não é tarefa fácil ser responsável pela felicidade de alguém.

E então cada pequena dependência minha (ou dos outros para comigo) acaba me irritando: não poder escolher a hora de malhar porque minha mãe já estabeleceu planos para minha estada em casa, ter que dar satisfação sobre o que fui fazer na rua quando na verdade eu nem queria ver a cara de ninguém, ter que aturar desaforo e burrice dos outros, ter que aturar a cara de "você não me ama mais" se me recuso a fazer alguma coisa, ter que ir, ter que voltar...

Talvez eu esteja querendo viver sob o princípio do prazer e esteja recusando o corte, o "nome do pai"... Talvez eu esteja insensível aos reforçadores presentes e demasiado sensível às privações que vigoram em minha vida há tempos... Talvez seja serotonina faltando. Ou então uma bela palmada, como diriam as avós de antigamente. TPM não é, ou serei uma aberração da natureza. Talvez seja, de fato, a falta do outro: solidão cansa.

Mas, como um bebê chorão, não me canso de esgüelar: eu quero minha serenidade de volta!!! No mínimo...

26 outubro 2008

Again



E não é que o vazio voltou?

Droga...

Imagem: Flickr (vale conferir o poema que acompanha a imagem!)

21 outubro 2008

Reflexões à beira da lagoa



Era domingo. Não fazia sol, uma vez que as nuvens finalmente venceram a batalha naquela primavera estranhamente (extremamente) quente. O vento era fresco, mas não frio. Um dia perfeito para alguém que tem o corpo coberto de pelos e uma generosa camada lipídica sob a pele e que portanto sofria com o calor.

A Capivara morava num parque dentro da cidade. Era um parque especial, pois não havia grades lá. Só o que o separava do restante da cidade era a pequena faixa da lagoa, facilmente transponível para indivíduos que vivem originalmente em ambientes alagados.

Mesmo sabendo da possibilidade de sair do parque, essa não era uma atividade freqüente da Capivara. Gostava de sua comunidade, bastante populosa para um parque na cidade. Gostava das pessoas que passavam por lá, sempre respeitadoras. Achava até divertido ser fotografada por elas.

No entanto desde que seus filhotes nasceram a vida da Capivara tornou-se obrigatoriamente rotineira. Mamíferos têm essa desvantagem: a mãe precisa estar sempre por perto, a fim de garantir a sobrevivência dos filhotes. Sair ainda era possível, mas incrivelmente difícil. As conversas entre as outras capivaras giravam exclusivamente em torno do tema maternidade. A capivara macho já não era mais o mesmo da época da conquista. A Capivara sentia-se imobilizada, reduzida a um único papel: o de mãe.

Para a Capivara era complicado admitir isso. Era sua primeira ninhada, sentia que havia engravidado no momento certo: sentia-se madura, pronta para ter filhos. Sua ninhada havia sido comemorada entre as outras capivaras da comunidade, que não se cansavam de repetir que a Capivara havia nascido para ser mãe. Tudo conspirava para a felicidade, mas a Capivara não conseguia sentir-se completa com seus filhotes.

Ao mesmo tempo, de cada vez que imaginava o desmame dos filhotes e a possibilidade de viverem suas próprias vidas (muito antes do que estão acostumados os humanos), a Capivara arrepiava-se completamente e sentia-se ainda mais vazia.

Não sabia como resolver o conflito. Passara dias e dias pensando, enquanto observava seus filhotes brincarem na grama sob o sol quente.

Não chegou a conclusão nenhuma. Mas naquele domingo nublado e fresco pegou seus filhotes e atravessou a faixa da lagoa. Não comunicou a ninguém onde iria. Caminhou pela margem, cuidando para que os filhotes não caissem nos trechos mais poluídos da lagoa mal tratada pelos humanos. Andou, sem rumo. Chegou até um ponto em que era possível ver grande parte da lagoa, inclusive o parque.

A Capivara ficou ali, sentada às margens da lagoa, com os filhotes protegidos sob a sombra formada por seu corpo. Pessoas passavam, algumas paravam, mas a Capivara estava imóvel. Naquelas horas - sim, a Capivara passou horas fora do parque com os filhotes - após tantos pensamentos, tantas comparações felizes e infelizes, ficou muito claro para a Capivara que aquela era sua vida. E que se não houvesse escolha quanto ao tipo de vida que poderia ter, a escolha quanto a sofrer ou desfrutar das peculiaridades de sua vida era bem palpável.

Ao entardecer a Capivara voltou com os filhotes para o parque.

Segunda-feira seria um novo dia.

Vívian Marchezini Cunha - outubro de 2008
Imagem: retirada deste blog

13 outubro 2008

Para além de



Acredito que todas as nossas experiências nos transformam. Algumas transformações são mais marcantes que outras, mas de fato cada evento nos torna uma outra pessoa, diferente daquela que estava ali agora há pouco.

Penso também que quando experienciamos as práticas de uma outra cultura os eventos parecem mais fortes, por diferentes, produzindo mudanças mais facilmente identificáveis até depois de muito tempo...

Já faz mais de dois anos que voltei de Belém do Pará, e ainda hoje me pego comparando situações de lá e de cá (Minas), a Vivi que foi e a que está aqui hoje. Talvez isso ainda fique no meu repertório por bastante tempo!

Dentre as muitas coisas que me marcaram em minha vivência paraense, a experiência da fé e da religiosidade é uma que hoje me chama atenção. Ontem foi comemorado o Círio, chamado Natal dos paraenses.

O Círio é uma grande homenagem do povo paraense à Nossa Senhora de Nazaré, momento de fazer pedidos e agradecimentos. Antes de morar em Belém, via o Círio pela tv e ficava me perguntando como tantas pessoas se submetem ao calor e à multidão por conta de uma imagem. Achava mesmo absurdo e me perguntava se seria realmente necessário aquilo tudo, já que, para mim, Deus está dentro de cada um e portanto uma oração solitária, em silêncio, bastaria para que o pedido ou agradecimento pessoal fosse atendido.

Só passei a ter noção do que aquelas pessoas sentem caminhando por horas sob o sol escaldante de Belém em meio à multidão quando estive lá, fazendo parte da multidão. Fui de curiosa, para ver a imagem passar (era a procissão que acontece na noite anterior ao Círio, a Trasladação). Naquela época (2003, acho) eu estava sofrendo muito com o processo da minha dissertação. Precisava de alento, força, coragem, ação.

Quando a imagem passou por mim senti uma energia que nunca havia sentido antes. Meu corpo se arrepiou completamente e eu simplesmente comecei a chorar.

Não consigo explicar o que houve. Talvez aquela imagem simbolizasse exatamente o que eu precisava naquele momento. Talvez ela simbolizasse minha mãe, que não estava lá comigo e de quem eu sentia tanta falta. O colo, a força, a determinação, a aceitação das condições impostas, a busca por condições de menor sofrimento, o sacrifício por um bem maior.

Venho de uma família que sempre respeitou Maria, e por algum tempo a figura de Maria me era mais familiar e próxima que a de Jesus mesmo. Estar ali, naquele momento, diante de Maria (de seu símbolo), me trouxe de volta à minha família, de volta a mim mesma.

Penso que religiosidade é transcendência. A experiência religiosa vai além da compreensão racional e nos traz (ou deveria trazer) para perto do que é melhor, mais puro, maior.

A paz que venho sentindo nos últimos tempos está ligada à minha busca pela religiosidade, pela religação com o amor maior. Graças a Deus.

Ainda tenho tanto a conseguir! Tanto caminho a trilhar! Horas e horas sob o sol forte da vida, buscando compreender melhor aos outros e a mim mesma. Me transformando. E, semelhante à Carmen, esse é um caminho que é meu. Não deixo ninguém seguir por mim.

Imagem: Retirada deste site.

08 outubro 2008

Nova "crise"




Mais uma vez seduzida pelas endorfinas... Vamos ver quanto tempo essa "crise" vai durar! (Tá passando da hora de cronificar isso aí... antes que outras coisas - bem piores - se cronifiquem!)