29 janeiro 2009

"Minhas férias"



Férias. Ou quarentena. Ou resguardo. Esses quarenta dias em que estive afastada do trabalho (acabei de me dar conta da quantidade e do que ela geralmente significa) me descansaram, me curaram, deixaram-me pronta para o que vem por aí.

Foram muitos encontros importantes!

O encontro com o ócio, querido, sem culpa. Dormir até mais tarde, assistir a altas besteiras na tv até não aguentar mais de sono, ler ainda um pouco antes de desmontar na cama.

O encontro com o sabor. Apreciei comidas deliciosas, sem me deixar destruir, usufruindo apenas do que elas poderiam me oferecer de positivo.

O encontro com a gargalhada. Ai, que divertido brincar como criança, rir até a barriga doer, rir de coisas simples e bobas!

O encontro com o sol e com o mar. Estar com o sol sem desejar fugir dele, estar entregue, em meio ao casamento perfeito de seu calor com a refrescância e energia das águas salgadas que custo tanto a sentir.

O encontro com o inusitado, com o mal estar, com o alerta do corpo. Aceitar o que vem, não me rebelar. Foram consequências - farei diferente da próxima vez.

O encontro com a amizade. Em longas jornadas - a pé junto à lagoa, de carro rumo ao mar, no espaço intangível mas presente da internet - aprofundando a relação, tornando-a fecunda e mais clara.

O encontro com uma história compartilhada, suas raízes, pedras, santos, talentos, atrocidades, douradas ambições, conhecimentos populares, cheiros, sabores, pernas doces, pés de moleque.

O encontro com o desejo pelo conhecimento inútil, mas não fútil ou banal. Descobrir coisas belas e suas histórias pelo simples prazer que isso proporciona, pelo reconhecimento da minha enorme limitação e pelo embevecimento ao identificar a suprema arte do outro.

O encontro com o amor. O mais belo encontro, porque de novo, porque sempre, porque real quando já quase era ponto. Porque nunca houve reticências tão concretas, porque tudo o mais veio também.

O encontro com o medo. Ele frequentemente vem. Mas o que ele não sabe é que aprendi que ele vem, inevitavelmente, e que nem por isso vou fugir ou desistir dos outros encontros. Ao contrário, o convido para vir comigo - sem medo sou um perigo!

O encontro com a paz. Uma paz forte (mas não indestrutível, ou seria estagnação), capaz de silenciar o medo em vários momentos, capaz de silenciar meus pensamentos, pausar meus sonhos, abir meus olhos para o que logo passa, para o que não será, simplesmente é.
Imagem: arquivo pessoal, impossível deletar ou copiar...

09 janeiro 2009

Momentum


Despira-se de alguns desejos, abdicara das companhias, deixara a estrada para outra hora.

Embebida de sua nova filosofia - a de viver o agora - não poderia deixar passar aquele momento. Há tempos esperava por ele.

O objeto de sua paixão, a fonte de sua energia estava ali, disponível, depois de vários dias compulsoriamente escondido pela chuva fina que caía das densas nuvens.

O sol estava lá, maravilhoso, forte, revigorante, perfeitamente acompanhado de um inebriante azul e da mais suave brisa que uma metrópole consegue prover.

Nada mais natural que entregar-se - com as devidas proteções, claro. Ainda conseguia ser prudente, apesar de apaixonada.

Levara consigo algumas companhias: sons, letras, água, óculos, chapéu, pensamentos.

Vivenciara cada minuto daquela tarde com o sol.

O traço evanescente da tecnologia no céu, as borboletas, os besouros, a garça (linda), os versos finalmente entendidos da música que ouvira tantas vezes, a praga da insônia em Macondo, o previsível mas ainda assim inevitável susto com a água gelada no corpo quase incandescente, as lembranças de outros sóis, outros sustos, outros fôlegos perdidos, os planos, feitos e imediatamente desfeitos - tenta ser alguém do presente, afinal.

Seu ímpeto era depois contar a cada um detalhes de sua deliciosa tarde com o sol.

Desistira. Era muito íntimo, absolutamente pessoal, maior que as palavras, maior que as histórias dos outros. Qualquer descrição seria pobre, qualquer recepção seria frustrante.

Então à noite, na companhia da lua (belíssima, decerto, mas não tão encantadora como o sol), prefirira o silêncio.

Momentum.


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