27 junho 2009

Paradinha



Acabo de ler um poema no blog do Dauri que tem tudo a ver comigo...
Lá ele admitia ter uma estrada dentro de si.
...
Decidi há alguns dias, após longo processo, abandonar a estrada. Essa, externa, na qual me colocava duas vezes por semana, em busca da minha independência e da minha realização. Seguindo nessa estrada cresci muito, aprendi mais do que ensinei, conheci pessoas que me marcarão para sempre, tomei decisões importantes para a minha vida. Não encontrei a felicidade. Mas até isso foi produtivo: é importante saber que o lugar para onde a estrada te leva não é o seu, nem será.
Quando as pessoas me perguntam o porque da minha decisão, digo: "cansei da estrada. Preciso me aquietar". Intimamente penso: "por algum tempo!"
Para sempre não combina comigo. É tempo demais... Minha estrada interior pede que eu caminhe, que eu simplesmente saia. É certo que de tempos em tempos preciso parar, reavaliar meu trajeto, voltar alguns passos (ou quilômetros) ... e então pegar a estrada novamente!
Não sei se a estrada terá fim, se meu caminhar é por ele mesmo ou se me levará a algum lugar... Vou seguindo...

Imagem: arquivo super pessoal

23 junho 2009

Não



O quereres
(Caetano Veloso)

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

19 junho 2009

Convite à realidade



"Caríssimo prefeito Márcio Lacerda,
É com muita honra que eu, cidadã de Belo Horizonte, o convido para jantar em minha casa. Estou providenciando cardápio especial, digno de um prefeito tão bem votado, depositário da confiança e da esperança de milhares de cidadãos belorizontinos (inclusive a minha).
O jantar será na próxima sexta-feira, às 19h. Traga também nosso governador e, quem sabe, futuro presidente, Aécio Neves. Será um prazer recebe-los aqui!
Há apenas um pequeno inconveniente... moro no bairro Planalto, zona norte. Para chegar até aqui vocês provavelmente enfrentarão um de nossos costumeiros engarrafamentos de 2 horas... 1 hora e meia, se vocês derem sorte!
Hoje mesmo foi ótimo! Fiquei duas horas dentro do ônibus (porque consegui pegar um ônibus que não passasse pelo centro inteiro, senão seria ainda mais tempo)! Nesse tempo consegui corrigir quase todas as minhas provas, além de ter ouvido muitas músicas bacanas, tanto no mp3 como no rádio! Pena não ter conseguido ler o livro que tinha na bolsa. Mas não há problema, pois li alguns capítulos desse livro no engarrafamento de ontem.
Sugiro então que vocês coloquem uns cds legais no carro oficial, aproveitem pra colocar a agenda em dia e fazer muitas articulações políticas. Pode ser uma boa idéia bater uma foto do trânsito, do celular mesmo, e enviar pro celular do Lula!
Os aguardo com muita expectativa! Pode deixar que se vocês demorarem muito coloco um pratinho no microondas pra vocês comerem quando chegarem, tá?
Respeitosamente,
Vivi
PS: Vejam essa matéria que foi veiculada na tv outro dia... Pode ajuda-los a entender o que estou falando...

Imagem: Saber Web

10 junho 2009

Virando uma página



Na vida é preciso enfrentamento.
Venho aprendendo isso, a custo de muita esquiva, protelação, sofrimento, reforçadores menores (diminuídos ainda mais por conta de uma culpa persistente por não conseguir).
Foi um processo árduo. Não é fácil ter medo e recuar quando se é considerada pelas pessoas como dotada de coragem e determinação. "Onde será que está essa coragem de que todos falam?" "Por que não consigo vencer a mim mesma?" "Por que não posso simplesmente dormir por cem anos e depois acordar com tudo pronto?"
Não vou dizer que agora me sinto muito mais corajosa. Pelo contrário, aprendi a assumir alguns medos e a não me meter mais em algumas aventuras que há pouco brilhariam meus olhos. Aprendi que a aventura não se faz só do começo. O processo de cada empreendimento precisa ser concluído, e é preciso ser forte não só para começar, mas para continuar também.
Minha trajetória rumo ao mestrado foi de muita coragem e empenho. Mas quando eu estava lá a coragem se foi, e foi muito difícil continuar. Por diversas razões. Fiquei de teimosa, ou orgulhosa. A coragem já havia me abandonado, a autoconfiança também; perder o reconhecimento das pessoas importantes para mim seria ainda pior.
Defendi minha dissertação há exatos quatro anos e meio. Mas só agora consegui enfrentar a mim mesma e à minha história e apresentar meu trabalho num congresso.
Acho que em poucas vezes na vida fiquei tão nervosa, em poucas vezes o nervosismo demorou tanto a passar. Foi bom que meu orientador não estivesse lá. Foi bom que ninguém que eu respeitasse demais estivesse lá. Foi bom ver pessoas acenando a cabeça demonstrando compreensão sobre o que eu dizia. Foi bom ouvir de uma professora, muito experiente e que eu acabara de conhecer, que meu trabalho estava muito bom e que ela gostaria de ter acesso a ele.
Já consigo acreditar que seja um trabalho bom. Já consigo falar sobre ele aos meus alunos como falo sobre a contribuição de outros psicólogos ao nosso campo de atuação.
Então no dia seguinte à apresentação do meu trabalho no congresso, sentada no alto da pedra do Arpoador, cercada de mar e beleza, envolta pelo vento, me senti livre. Acho que finalmente estou pronta pra virar essa página na minha vida.

Imagem: Pablo Picasso. Women Running on the Beach. 1922. Oil on plywood. Musée Picasso, Paris, France