17 junho 2008

Lá ou aqui-e-agora




Costumo dizer, desde os tempos da graduação, e agora em sala de aula com meus alunos, que a escolha por uma abordagem da Psicologia - dentre as diversas existentes - passa diretamente pelas questões pessoais do futuro psicólogo. As abordagens, entendo eu, são como óculos que a pessoa vai experimentando. Vejamos o que aconteceu comigo:

Coloquei um par - o da Psicanálise - e olhei em volta. Interessante, mas ainda continuo com minha visão turva, um tanto entortada pelos novos óculos.

Coloquei outro - o da Psicologia Analítica de Jung - olhei de novo. Hum... ainda não.

Mais um - o da Sistêmica. Um pouco mais próximo de uma visão confortável, mas ainda trazendo explicações que não me convenciam muito bem.

Finalmente coloquei o par da Análise do Comportamento. Bingo! Visão perfeita, nítida, cores brilhantes, formas bem delimitadas, campo de visão ampliado. Escolhi meus óculos.

Devo dizer que eles me servem até hoje, continuam explicando minhas inquietações (e trazendo outras, o que me faz viva academicamente). Meus óculos fazem mais brilhantes meus olhos!

No entanto tenho vivenciado situações e interações que me fazem pensar que eu devia ter experimentado os óculos da Fenomenologia, que passaram muito rapidamente por mim, atrapalhados por uma péssima professora (vendedores têm o delicado poder de embelezar ou enfeiar os produtos que apresentam).

A Análise do Comportamento me dá a possibilidade de prever. Não conseguiria viver sem isso. "Sou uma pessoa do futuro", vivo dizendo. A AC me permite viver o futuro agora, mesmo que com alguma margem de erro, própria do determinismo probabilístico. Em muitas situações essa possibilidade me faz muito bem.

No entanto, a vivência do aqui-e-agora fica negligenciada com tamanha preocupação (pré-ocupação). Venho percebendo isso nos últimos anos (três, acho) e bastante claramente agora. Ocupada com o futuro, deixo de contatar as contingências atuais, de me expor aos reforçadores que estão disponíveis agora.

Uma longa história de autocontrole! Geralmente, no meu caso, a vivência de situações que produzem reforçadores imediatos é acompanhada por sentimentos de culpa e vergonha. Daí vivi me esquivando desses sentimentos agindo, na maior parte das vezes, com bastante cautela, analisando cada possibilidade.

Devo dizer aqui, com muito orgulho de mim e da minha mudança, que aos pouquinhos estou conseguindo agir sem pensar muito no que vai ser daqui a cinco minutos, cinco dias ou cinco anos. Agir e sentir, é o que tenho tentado.

É bom!...

5 comentários:

Drica disse...

Vivi, suas reflexões me soam tão familiar. Ainda hoje estava conversando com uma colega de trabalho que me confidenciou a sua vontade de ser mais impulsiva, menos autocontrolada no sentido de tentar prever e controlar todas as variáveis. Ela me falava que esse jeito de ser acabava lhe tirando a espontaneidade. Concordo com ela...por isso tenho me lançado diariamente em um desafio parecido com o seu: viver o aqui e agora!!
Bjs

Dauri Batisti disse...

`Minha cara colega. Você descreveu tão bem o seu caminho que foi impossível não pensar no caminho que fui fazendo, com óculos diferentes, não só na graduação, mas ao longo do exercício da profissão também. Bonito seu texto. Foi bom ter vindo aqui.

Vivi disse...

Drica,
penso que o que venho buscando nem é tanto uma postura de me jogar... Não é bem a impulsividade, mas é estar mais sensível às contingências atuais, sabe? Não é porque me autocontrolo que não preciso vivenciar, experimentar o que está acontecendo agora. Nem tudo o que é imediato deve ser ruim! É o equilíbrio que venho buscando. Espero que você e sua amiga também o encontrem!

Dauri,
fiquei curiosa! Como foi sua trajetória no experimentar dos óculos? Sua presença é sempre
otima!

Beijos

Carmen disse...

É uma vergonha admitir isso, mas fiquei na maior curiosidade sobre a identidade da "má vendedora" de fenomenologia. Será que é que eu estou pensando?!? rsrsrsrsrs :)

Vivi disse...

Carminha,
lembre-se das selvagerias cometidas em nossas aulas de Personalidade e certamente terá a resposta da sua dúvida (que não é tão vergonhosa assim. Vergonhosa foi a atitude da tal professora).
Beijos

Ah! Há tempos venho tentando comentar no Mulher Desdobrável, mas minha conexão não ajuda. Comentarei daqui mesmo: Escreva em português, por favor!!! Não me prive de suas palavras!
Outro beijo!