Despira-se de alguns desejos, abdicara das companhias, deixara a estrada para outra hora.
Embebida de sua nova filosofia - a de viver o agora - não poderia deixar passar aquele momento. Há tempos esperava por ele.
O objeto de sua paixão, a fonte de sua energia estava ali, disponível, depois de vários dias compulsoriamente escondido pela chuva fina que caía das densas nuvens.
O sol estava lá, maravilhoso, forte, revigorante, perfeitamente acompanhado de um inebriante azul e da mais suave brisa que uma metrópole consegue prover.
Nada mais natural que entregar-se - com as devidas proteções, claro. Ainda conseguia ser prudente, apesar de apaixonada.
Levara consigo algumas companhias: sons, letras, água, óculos, chapéu, pensamentos.
Vivenciara cada minuto daquela tarde com o sol.
O traço evanescente da tecnologia no céu, as borboletas, os besouros, a garça (linda), os versos finalmente entendidos da música que ouvira tantas vezes, a praga da insônia em Macondo, o previsível mas ainda assim inevitável susto com a água gelada no corpo quase incandescente, as lembranças de outros sóis, outros sustos, outros fôlegos perdidos, os planos, feitos e imediatamente desfeitos - tenta ser alguém do presente, afinal.
Seu ímpeto era depois contar a cada um detalhes de sua deliciosa tarde com o sol.
Desistira. Era muito íntimo, absolutamente pessoal, maior que as palavras, maior que as histórias dos outros. Qualquer descrição seria pobre, qualquer recepção seria frustrante.
Então à noite, na companhia da lua (belíssima, decerto, mas não tão encantadora como o sol), prefirira o silêncio.
Momentum.
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2 comentários:
Que saudade desse moço (o sol)! Por aqui ele só passa apressado, distraído, meio "frio", sem expressão. E logo se esconde tímido ou desinteressado, não sei. Pelas bandas de cá não há brilho no inverno. Pouca luz e muita brancura. Geladeira terrestre é aqui. Não vejo a hora de visitar o "forno"... ♫
Vivi,
Sabe que no dia 10 eu aproveitei de um momento que deve ter sido muito parecido com o seu? Sol, água, verde, livro, música.
Esse post me fala de felicidade. A mais simples e imperceptível felicidade. dessa que às vezes passa sem a gente ver, se perde entre os dedos. É incrível como a gente não precisa parar pra se sentir assim. A gente pode se sentir "contemplada" por sol em tantos momentos da vida, tantas vezes por dia. Mas o sol toma formas diversas: eu gosto de reparar no sorriso das pessoas e de perceber como é bom ter amigos que se parecem comigo de alguma maneira e me conhecem bem. Isso me traz o calor que esse sol te trouxe (quando não posso desfrutar de uma tarde assim né).
E a Norah Jones ao fundo foi sensancional...
beijos!!!
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