Ela é terapeuta. Abre a porta e convida a moça para entrar. Ouve as queixas da moça, coloca-se em seu lugar, pontua aspectos que talvez a moça não percebesse até aquele momento. Aquelas queixas remetem a terapeuta às suas próprias queixas, e ela fica buscando uma maneira de separar o joio do trigo e de encontrar estratégias para ajudar a moça - e a si mesma também.
Agora é a mãe da moça que entra. Estão ali as três: a terapeuta, a mãe e a moça. Relações delicadas, longa história de dependência, abnegação e esquiva. Chovem cobranças, acusações, palavras tortas, como granizo em teto super sensível.
A terapeuta fica se perguntando como intervir, procura traduzir algumas palavras de maneira a auxiliar a comunicação e conclui que se trata de uma conversa de surdos - ou de indivíduos falantes de idiomas diferentes (e portanto funcionalmente surdos).
A situação fica tão tensa que a mãe se retira, como diria a moça, "como um porco-espinho".
A terapeuta consegue então visualizar a relação de maneira um pouco mais clara: são como os porcos-espinhos da fábula, que ora se machucam com a proximidade intensa, ora se afastam e morrem congelados e sozinhos.
Após se despedir da moça a terapeuta fica pensando que talvez esse seja seu caso mais difícil. Ela entende bem o pobre ferreiro que sempre é julgado por ter espetos de pau em sua própria casa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário