Acabo de assistir ao filme "O Escocês Voador". Assisti apenas à segunda metade, o suficiente para me emocionar e pensar em algumas coisas acerca do enfrentamento, da superação e da humildade.
O filme conta a história do ciclista (escocês!) Greame Obree. (Me desculpem as imprecisões ao relatar a história; como disse, assisti apenas a uma parte do filme - coisas de quem zapeia na tv a cabo até encontrar algo que valha a pena.) Obree cresce numa cidade no interior da Escócia, perseguido e maltratado por outras crianças da cidade, no que hoje chamamos de bullying, nome novo para antiga e cruel prática infantil. Para conseguir fugir dos "inimiguinhos", Obree passa a andar em sua bicicleta cada vez mais rápido, e acaba aprendendo que essa é não só uma boa fuga, como também algo que lhe faz bem. Penso que isso pode ser enquadrado na classe de respostas de esquiva adaptativa: uma interessante (às vezes a única possível) resposta de enfrentamento.
Obree passa a fazer da bicicleta seu meio de vida: trabalha como entregador e treina velocismo, batendo recordes nacionais e mundiais.
Me chamaram a atenção os diversos momentos em que Obree é boicotado pela Federação Mundial de Ciclismo, que criava novas regras a cada nova conquista do ciclista: Obree se adaptava às novas regras buscando alterar e superar sua própria maneira de trabalhar, e vencia novamente. Superação.
Além dos entraves burocráticos, Obree ainda precisava enfrentar suas dores pessoais. Não as físicas, mas as psicólogicas. Ter sido vítima de bullying deixou marcas importantes em sua auto-imagem, em sua auto-estima; mesmo campeão mundial, Obree sofria com a depressão.
No caso de Obree, a longa história de superação não foi somente benéfica. Ele sabia que estava mal, mas sabia também que conseguiria voltar a ficar bem, bastava que se esforçasse para isso. Foram anos de altos e baixos, ora sucumbindo à depressão, ora vencendo-a temporariamente. Obree teve seu bem estar adiado por muito tempo, por não perceber que a ajuda de outras pessoas - amigos e profissionais - se fazia necessária.
Somente após chegar ao fundo de sua dor, tentando o suicídio, é que Obree admite a possibilidade de estar doente e de precisar de ajuda profissional. Aqui entrou a humildade.
A história de Obree me emocionou porque consegui enxergar nele algumas pessoas que conheço e que me são muito queridas. Enxerguei um pouco de mim também. Me tocou a luta solitária para sair da tristeza, uma tristeza persistente e lenta, que age aos poucos, minando as forças da pessoa. Senti pena de Obree, de mim mesma (do quanto demorei a identificar que precisava de ajuda quando estava mal), dessas pessoas queridas que identifico que estejam mal também. Senti vontade de fazer algo por elas, de pegar suas mãos e levá-las a um profissional, de dizer: "faça psicoterapia, isso é uma ordem". Mas sei que isso não funciona, que não adianta obrigar uma pessoa a se cuidar se isso não é uma demanda dela mesma.
Eu já me cuidei. Me sinto bem agora (há algum tempo, graças a Deus e aos profissionais que me ajudaram). Talvez o que eu possa fazer seja isso mesmo: estar bem, disponibilizando minhas mãos para quando essas pessoas perceberem a necessidade de serem puxadas e amparadas...
4 comentários:
Perfeito, Vi...
Quero assistir ao filme!
Essa angústia é realmente frequente entre psi-amigas... rsrsrsrs
Beijão!
Amida... O que eu posso dizer?
Entendo perfeitamente e minhas mãos estão aqui, sempre estendidas pra você, mesmo quando for só pra te ajudar a segurar a onda, viu?
Amidas queridas,
a empatia de vocês me ajuda a me manter forte!
Obrigada!
Beijos
Vivi, saudade tb! Aquele poema na internet é atrubuido a martha medeiros... mas eu ando duvidando de tudo o que eu acho na net...rsrs
Bjo grande!
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