28 agosto 2007

El sol y la vida



Era um lindo dia, ensolarado e quente como há tempos não se via na região quase sempre gelada, de ventos fortes e cortantes. Os pássaros cantavam, pulando pelas diversas árvores que circundavam a grande casa. Era uma casa especial.
A bela jovem aguardava os pais na varanda da casa. De estatura baixa, longos cabelos loiros cacheados, pele rosada, naquele momento a jovem assemelhava-se a uma criança, frágil, assustada diante de eventos que não conseguia explicar. Os olhos grandes e inquietos pareciam buscar uma conexão entre a realidade visível, palpável, e aquela apenas sentida. Apenas. Suas perguntas tentavam, de maneira quase desesperada, encontrar pontos comuns entre seus sentimentos e os sentimentos das outras pessoas, como se quisesse negar a condição especial na qual se encontrava naquele momento.
Confusão, sofrimento, estranhamento, encantamento. Era o que os grandes e inquietos e úmidos olhos diziam ao mundo de cores, cheiros, sons, palavras e pessoas que insistia em fazer parte apenas da vida da jovem. Apenas.
A jovem estava repleta de si, repleta do outro, e ao mesmo tempo completamente esvaziada, desconjuntada, à parte do conjunto, do todo ao qual acostumara-se a viver ao longo de sua breve porém intensa existência.
O não-saber tomava conta da casa, das pessoas que a faziam especial. Naquele momento era preciso vestir o conhecimento adquirido com os livros, com os olhos, com as mãos, com os ouvidos. Era preciso, mais que isso, vestir, como uma segunda pele, os valores construídos a partir da vivência nos mais diversos ambientes. Era preciso tentar, sob a proteção de tão importantes vestes, amenizar o sofrimento da bela jovem de olhos inquietos.
Aquele lindo dia ensolarado e quente marcara a existência das pessoas da casa especial, que perceberam, naquele momento, de uma só vez, a grandiosidade de tudo aquilo que já estava se tornando corriqueiro.
Vívian Marchezini - 28 de agosto de 2007
Imagem: Frida Kahlo, El sol y la vida (1947)

13 comentários:

Fastfa disse...

hum... tá com cara de romance esse conto! Continua, vai...

Unknown disse...

Mais, mais, mais!!!
Muito bom seu conto!
Mas acho que os cachinhos dessa menina não eram loiros... :)
Beijoca.

Anônimo disse...

Vivi!!!!
Ótimo!!!!
Continua!!!
Bjim

Unknown disse...

Muito legal Vivian!!
Não sabia desse seu talento...
Tb acha que tem cheiro de romance no ar...rsrsr
Bjos e parabéns!

Unknown disse...

correção: "tb acho..." rsrsr

Anônimo disse...

Vivian,
Tô boba... além de excelente psicóloga, agora é poeta...!!!! Parabéns...espero num futuro próximo estar presente no lançamento do seus livro de contos!!!
bjo!!!

Fernando Marchezini disse...

Começando a incorporar a Habilidade Ivani man hein!

bjim!

Fernando

M. Auxiliadora disse...

Vivian,
Achei legal o calor estar voltando a aquecer a região quase sempre gelada. Vc é realmente uma casa grande e especial como mais esse dom super legal. Agora é só deixar o calor entrar. Parabéns! Auxiliadora

Unknown disse...

Oi Vi.

Sempre surpreendendo heim?!
Continue que você chega longe.
Tenho a certeza disso e também
de que todos querem mais, muito
mais.

Parabens!

Adriano.

Fabrício disse...

Bom, eu não sou o que pode-se chamar de "crítico literário", mas que ficou bunito-pá-dedéu, ah, isso ficou!

E eu que nem sabia da existência desse blog. Já o coloquei no meu agregador pra acompanhar os próximos capítulos.

Vivi disse...

Gente! Quanto carinho!
Muito obrigada pelos comentários, por acreditarem que meu pequeno conto possa vir a se tornar um romance, embora eu pense que por enquanto ele termina ali mesmo, no não saber, na perplexidade, na busca por um novo sentido. Vocês são ótimos!
E sabe o que é bacana na arte? As interpretações podem ser muitas!!! Vejam só: os cachinhos loiros já podem não ser loiros, a casa especial foi interpretada como sendo eu mesma... Metáforas são ótimas, mesmo quando não nascem como metáforas!
Beijos a todos, obrigada pela visita! E agora que já sabem da existência do meu blog (alguns já sabiam), voltem sempre!
Beijos

Um tanto de mim disse...

Vivinha,

amei que as inquietações dessa jovem desse no maravilhoso final, sem final, quase reticências.
Afinal, reticências podem mesmo ser tudo, né?!!!
Agora a casa tá em ordem, vem logo nos visitar!
Beijooooooo

Lavínia disse...

Oi, Vívian.
Demorei, mas vim ver o seu conto. Gostei! Mas concordo que tem cara de romance. A gente fica pensando: por que a casa é especial? É especial em quê? Por que a jovem está se sentindo frágil? Que experiência particular é essa que ela tem? Desculpe perguntar essas coisas. Às vezes, eu sou meio tapada. A jovem teve um surto? Um ataque epilético? Uma experiência de epifania? Ou simplesmente se deu conta da maravilha, do milagre que é estar viva?
Fico aguardando cenas do próximo capítulo. :-)
Um beijo,