27 dezembro 2009

Para 2010




Você já sabe o que quer - e o que não quer - no próximo ano?


Neste ano que se inicia quero, cada vez mais:
- manter o que é bom pra mim e para os outros;
- aprender com as adversidades;
- tirar da minha vida o que não me ajuda a ser melhor.


Quero mais leveza, paz, sorriso, satisfação.
Quero menos alívio, saudade, frustração.
Quero teto, calor, chão.


Ampliar meus horizontes, me permitir viver de fato.
A vida é curta, 2009 me ensinou.
2010 não me escapa!


Desejo que você assuma o controle de sua vida em 2010. Pegue-a com as mãos, avidamente. Conduza-se pelos caminhos que deseja e que te fazem bem. Faça isso pleno da paz que é própria de quem faz o que é necessário, justo e bom.


Feliz 2010!


Imagem: A paz - Pablo Picasso (1952)

22 dezembro 2009

(Auto) aquecimento global



Seus sentimentos estão inconstantes como o clima desse dezembro estranho. Viram-se do sol radiante à mais terrível tempestade com a velocidade de um pensamento.
Ao fundo, a brisa fria, imprópria para a época, soprando persistente. Às vezes consegue se proteger com presentes ilusórios, ou fechando as janelas para o futuro incerto.
Entretanto percebe que não há muito o que fazer.
Precisa apenas saber ao certo que chão escolherá para si, e que caminhos deve recusar.

Imagem: A ventania - Anita Malfatti (1917)

10 dezembro 2009

Com a vassoura atrás da porta

Melancolia, que surpresa desagradável... Você sumiu há tanto tempo que já não esperava que voltasse. Não seja deselegante: perceba logo que não é bem vinda, dê uma desculpa qualquer e saia de fininho.
E faça a gentileza de não voltar!
Obrigada!


Havia colocado uma imagem belíssima para ilustrar o post. Mas a pedido da autora (muito gentil, por sinal), essa imagem está sendo retirada. Respeito aos direitos autorais é super importante!

05 dezembro 2009

Agindo (?)




Um nascimento desejado,
Uma morte inesperada.
Numa semana de começos e finais,
Pensar no processo da própria vida é natural.
Para onde estamos indo?
Quando chegaremos?
Como estamos caminhando?
Estaremos mesmo avançando?
Ou será que apenas andamos em círculos,
Perdidos em nossos receios?


Nesse momento, o ímpeto é de seguir.
Fazer malas, montar casa.
Fazer uma encomenda especial.
A vida está seguindo para alguns -
Nem sempre de um jeito fácil, é certo.
Mas segue.
E nós?
E agora?


"Enquanto adiamos, a vida se vai." Sêneca - Da economia do tempo


(Filme propício: Sociedade dos Poetas Mortos)


Imagem: André Teixeira, no Flickr.

25 novembro 2009

Fim de semestre...

Dizem (meus pensares desarrazoados de exaustão) que esse poema Adélia Prado escreveu ao final de um semestre letivo...

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

(em Bagagem, 2009. Ed. Record)

22 novembro 2009

Estímulo reforçador




Um exemplo de um dos motivos (talvez o mais forte) pelos quais eu continuo dando aulas, a despeito da falta de atenção e interesse de alguns, da dor nas pernas, da dor na garganta, do trabalho chato que é corrigir provas, trabalhos, relatórios, lançar diários de classe...


Ei, Vívian!
Como vc tá??
saudades de vc...
E o trabalho aí? Como que tá?
Esses dias eu fui num seminário sobre crianças autistas, (...) aí eu lembrei de vc, pq a maior parte das coisas que ela [palestrante] disse vc tinha explicado pra gente, e percebi o qto eu sabia sobre o assunto que ela abordava.
Lembra: modelagem, extinção de comportamentos, estímulo reforçador (o melhor de todos) ... Nossa tanta coisa... Era pra ter te mandado um e-mail antes para poder te agradecer do seu modo de dar aula... Sei lá, fiquei impressionada de saber que eu tinha conteúdo... rsrs... vc é uma professora maravilhosa e faz muita falta... Que Deus te abençoe e te ilumine sempre, para ser cada vez mais essa profissional maravilhosa que vc é!
beeijoos,
[ex-aluna]
Que ninguém me entenda mal... mas é que é muito bom receber mensagens como essa (recebo algumas de tempos em tempos - obrigada queridos!) ... precisava tornar o reforço mais visível (pra mim mesma). 


Imagem: retirada deste site

02 novembro 2009

Feriado



Filme romântico
Chuvinha lá fora
Resfriado
Carência
...
Paciência!

Imagem retirada deste blog, onde estava sem créditos...

14 outubro 2009

Check list


Por provocar risos infantis
E eliciar taquicardias adolescentes
Suscitar planos responsáveis
E memórias das mais diversas cadências

Por ter o peso ideal
A temperatura perfeita
O olhar mais eloquente
A mão mais terna
A voz mais doce

Por me trazer o sol
O som
O sabor
A fome
A paz

Por tudo isso, só me faltava o sim.
Agora, não mais...

04 outubro 2009

Ferreiro



Ela é terapeuta. Abre a porta e convida a moça para entrar. Ouve as queixas da moça, coloca-se em seu lugar, pontua aspectos que talvez a moça não percebesse até aquele momento. Aquelas queixas remetem a terapeuta às suas próprias queixas, e ela fica buscando uma maneira de separar o joio do trigo e de encontrar estratégias para ajudar a moça - e a si mesma também.
Agora é a mãe da moça que entra. Estão ali as três: a terapeuta, a mãe e a moça. Relações delicadas, longa história de dependência, abnegação e esquiva. Chovem cobranças, acusações, palavras tortas, como granizo em teto super sensível.
A terapeuta fica se perguntando como intervir, procura traduzir algumas palavras de maneira a auxiliar a comunicação e conclui que se trata de uma conversa de surdos - ou de indivíduos falantes de idiomas diferentes (e portanto funcionalmente surdos).
A situação fica tão tensa que a mãe se retira, como diria a moça, "como um porco-espinho".
A terapeuta consegue então visualizar a relação de maneira um pouco mais clara: são como os porcos-espinhos da fábula, que ora se machucam com a proximidade intensa, ora se afastam e morrem congelados e sozinhos.
Após se despedir da moça a terapeuta fica pensando que talvez esse seja seu caso mais difícil. Ela entende bem o pobre ferreiro que sempre é julgado por ter espetos de pau em sua própria casa...

Imagem retirada deste site onde também pode ser encontrada a fábula dos porcos-espinhos...

23 setembro 2009

A



Ela sente sua garganta se fechando, fisicamente.
Como num processo alérgico, um edema de glote puramente emocional.
Puramente, mas não simplesmente.
Percebe ter gritos entalados em sua garganta.
Há dias.
A cada dia são acumulados mais alguns gritos.
Gritos de "chega", de "pára", de "que chatice".
Mas prefere não gritar, pois são muitas coisas envolvidas.
Muitas pessoas envolvidas.
Começa a compreender Lennon e seus gritos em Mother.
Terapia do Grito Primal.
Há de chegar a hora...

Imagem: Flickr

14 setembro 2009

Xis!


Sorrir com os erros, com os acertos, com as piruetas e os desequilíbrios.
Sorrir de sem jeito.
Sorrir com o balanço, com a ginga, a leveza e a graça - do outro e, aos poucos, seus.
Sorrir com o novo, com o atrasado que, paradoxalmente, chega na hora exata.
Sorrir com a criança: aquela que nasceu há pouco e a que acordou agora - dentro de você.
Sorrir com a volta, com o resgate, com a retomada de si.
Coisa boa é sorrir!

Imagem: La FruU, no Flickr

07 setembro 2009

"Novo sofrimento"

Super pensativa.
Não vou escrever nada agora.
Preciso levar isso pra terapia primeiro...
Intervenções não têm hora nem lugar pra acontecer, não é? De repente: TUM! Já foi... Agora se vira até quinta-feira!
Imagem: Grande Baigneuse au livre, c.1937 by Pablo Picasso

02 setembro 2009

Prey


Está aberta a temporada de caça aos sinceros.
Corra!
Escolha uma bela máscara - a do sorriso costuma afastar os caçadores.
Fale o mínimo possível.
Escolha cuidadosamente suas palavras.
Seja político.
Se não conseguir mentir, ao menos omita.
Lembre-se, é sua vida que está em risco!
Esconda suas fraquezas como quem esconde a prova do crime.
Esqueça o que são lágrimas.
Risque a ignorância do seu vocabulário.
Planeje cada passo.
Queime seu diário.
Assuma o posto que te deram, vista a beca.
E vá pela sombra.

Imagem: Flickr

28 agosto 2009

Eu, Lisa



Sempre fui bem diferente das meninas da minha idade. Não tinha turma. Não falava palavrão. Assistia a filmes-cabeça com meu pai. Gostava de assistir e discutir sobre futebol. Sabia - e usava - palavras muito rebuscadas, eruditas ou antigas para uma menina (sempre, qualquer que fosse a minha idade). Entendia de política. Nunca soube jogar video-game. Achava meu irmão mais velho um bobo. Queria mudar o mundo.
É claro, acabei ganhando o apelido de Lisa Simpsom!
Pensando bem, acho que não foi tão ruim assim.
Minha irmã acabou de me contar que a Lisa também é vegetariana (embora eu não possa me considerar, de fato, vegetariana, pois ainda como peixe), e me mandou essa imagem, comprovando mais uma vez nossa semelhança. Eu gostei!

PS: Hoje sou um pouquinho menos estranha... :)

16 agosto 2009

Sacudida



Chega de lamentos, de não-consigos e de não-vai-dar-certos!
Levanta, dá o primeiro passo, ainda que sem força e em falso.
Anda, mesmo que trôpego. Lembra do cavalo, que antes de galopar é potro fraco, de pernas bambas. Mas ao nascer ele já anda.
Pára de esperar que a vida te leve. A vida não leva ninguém.
Toma as rédeas, enfrenta o medo, que existe e é legítimo.
Percebe que as amarras se soltam; é tua inércia que as mantém.
Enxerga de uma vez por todas que nada vem pronto, que é preciso arregaçar as mangas e construir.
A vida é tua, com tudo de penoso e de delicioso que há no "ter" algo. Apropria-te dela.
Movimenta teu corpo e tua cabeça e esquece a ideia de que os outros são responsáveis por tua felicidade.
Sai desse lugar.
Cansei de te mostrar as possibilidades e de ser alavanca ou suporte. Minha vida também me espera.
Estou seguindo, e deixo a culpa pra trás.
Faz o mesmo, se houver algo de sensatez em ti.

Imagem: Flickr

08 agosto 2009

Ausente



"Alô!
...
Tudo bem, e com você?
...
A poesia? Não, ela não está. Era só com ela que você queria falar?
...
Puxa, você não tá com muita sorte, pois a inspiração saiu também.
...
Não, não sei quando elas voltam. Pode ser a qualquer hora. A inspiração é tão imprevisível!
...
Sim, realmente é possível que elas voltem juntas.
...
Mas olha, o trabalho está aqui, não quer falar com ele?
...
Não tá sozinho não. A expectativa também está, trouxe até a ansiedade, aquela desagradável. Detesto quando o trabalho se envolve com essa aí! Fica um clima pesado, sabe?
...
Uai, fazer o que? Me acostumar com o trabalho e esperar essa ansiedade ir embora! Uma hora ela vai. Da expectativa eu até gosto, sabe? De vez em quando ela vem aqui e a casa fica cheia, movimentada!
...
A alegria passou por aqui, logo que ela soube que o trabalho viria, mas foi embora quando a ansiedade chegou.
...
É, menina, elas não se dão bem. Engraçado que a alegria gosta muito da expectativa, mas não se dá com a ansiedade.
...
Concordo com você!
...
Tudo bem, então! Eu dou seu recado pra poesia.
...
Eu também sinto falta dela, mas realmente com o trabalho em casa não sobra muito espaço pra ela; eles são monopolizadores, sabe?
...
Uma casa maior? Pode até ser. Mas acho que mais organização já ajuda!
...
Tudo bem! Apareça qualquer dia! Quem sabe se você vier a inspiração fica mais em casa?
...
Tá, vou esperar!
...
Outro! Tchau!"

Imagem: Flickr

22 julho 2009

Viva la vida!

A distância do mundo virtual se justifica pela imersão no mundo real...
Fui ser feliz e já volto!

10 julho 2009

Souvenir



Últimas horas em Montes Claros.
A semana que está acabando foi intensa. Mais viagens que de costume, mais emoções que as rotineiras, muitas, muitas coisas a serem resolvidas para que a casa esteja arrumada para o próximo morador e para que a próxima morada seja ao menos vislumbrada com um pouco menos de incertezas.

Vinha caminhando pela cidade esta manhã - como caminhei hoje! - pensando no que seria inesquecível pra mim desta cidade, no que me faria fechar os olhos, suspirar e dizer "que saudade de...". Algo que fosse como o rio com ondas, o açaí de verdade ou o sorvete Cairu, que só encontro em Belém. Ou que fosse como a cerveja mega gelada sob o sol forte das 11h e o céu super azul que invariavelmente faz em Morro Vermelho. Ou o paredão que envolve Tiradentes e a combinação perfeita de mar, sol e vento do Rio de Janeiro.

Confesso que não encontrei nada de físico que pudesse exercer a função de estímulo super discriminativo para respostas de saudades de Montes Claros. Não porque não haja nada de bom aqui. Há com certeza, mas entre as coisas típicas nada me fisgou sobremaneira. Nem a carne de sol (que não gostava muito quando comia carne, agora menos ainda), nem o pequi. O feijão andu talvez seja o candidato mais forte! (é muito gostoso! Estando em Montes Claros, experimentem)

O fato é que o que vai ficar em meu coração, em minha história, e que sempre vai suscitar sentimentos de saudade e de querer bem são as pessoas! Os momentos que passei com elas, as risadas, as confidências, as discussões teóricas e acerca do fazer do psicólogo e do professor, as conversas jogadas fora, sobre nada, tão necessárias num dia-a-dia cheio de atividades muitas vezes estressantes.

Colegas, alunos, clientes, companheiros de prédio: cresci tanto com eles que não posso, de maneira alguma, dizer que sou a mesma pessoa depois desses dezoito meses por aqui. E apesar das minhas queixas com relação à cidade, sou toda elogios e agradecimentos às pessoas que me cercaram todo esse tempo.

Seria injusto destacar aqui pessoas ou ações significativas para mim, pois corro o sério risco de não abarcar todos. Mas cada momento está guardado, não em fotos, mas na minha história. E se está na minha história, está em mim.

Para sempre.

27 junho 2009

Paradinha



Acabo de ler um poema no blog do Dauri que tem tudo a ver comigo...
Lá ele admitia ter uma estrada dentro de si.
...
Decidi há alguns dias, após longo processo, abandonar a estrada. Essa, externa, na qual me colocava duas vezes por semana, em busca da minha independência e da minha realização. Seguindo nessa estrada cresci muito, aprendi mais do que ensinei, conheci pessoas que me marcarão para sempre, tomei decisões importantes para a minha vida. Não encontrei a felicidade. Mas até isso foi produtivo: é importante saber que o lugar para onde a estrada te leva não é o seu, nem será.
Quando as pessoas me perguntam o porque da minha decisão, digo: "cansei da estrada. Preciso me aquietar". Intimamente penso: "por algum tempo!"
Para sempre não combina comigo. É tempo demais... Minha estrada interior pede que eu caminhe, que eu simplesmente saia. É certo que de tempos em tempos preciso parar, reavaliar meu trajeto, voltar alguns passos (ou quilômetros) ... e então pegar a estrada novamente!
Não sei se a estrada terá fim, se meu caminhar é por ele mesmo ou se me levará a algum lugar... Vou seguindo...

Imagem: arquivo super pessoal

23 junho 2009

Não



O quereres
(Caetano Veloso)

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

19 junho 2009

Convite à realidade



"Caríssimo prefeito Márcio Lacerda,
É com muita honra que eu, cidadã de Belo Horizonte, o convido para jantar em minha casa. Estou providenciando cardápio especial, digno de um prefeito tão bem votado, depositário da confiança e da esperança de milhares de cidadãos belorizontinos (inclusive a minha).
O jantar será na próxima sexta-feira, às 19h. Traga também nosso governador e, quem sabe, futuro presidente, Aécio Neves. Será um prazer recebe-los aqui!
Há apenas um pequeno inconveniente... moro no bairro Planalto, zona norte. Para chegar até aqui vocês provavelmente enfrentarão um de nossos costumeiros engarrafamentos de 2 horas... 1 hora e meia, se vocês derem sorte!
Hoje mesmo foi ótimo! Fiquei duas horas dentro do ônibus (porque consegui pegar um ônibus que não passasse pelo centro inteiro, senão seria ainda mais tempo)! Nesse tempo consegui corrigir quase todas as minhas provas, além de ter ouvido muitas músicas bacanas, tanto no mp3 como no rádio! Pena não ter conseguido ler o livro que tinha na bolsa. Mas não há problema, pois li alguns capítulos desse livro no engarrafamento de ontem.
Sugiro então que vocês coloquem uns cds legais no carro oficial, aproveitem pra colocar a agenda em dia e fazer muitas articulações políticas. Pode ser uma boa idéia bater uma foto do trânsito, do celular mesmo, e enviar pro celular do Lula!
Os aguardo com muita expectativa! Pode deixar que se vocês demorarem muito coloco um pratinho no microondas pra vocês comerem quando chegarem, tá?
Respeitosamente,
Vivi
PS: Vejam essa matéria que foi veiculada na tv outro dia... Pode ajuda-los a entender o que estou falando...

Imagem: Saber Web

10 junho 2009

Virando uma página



Na vida é preciso enfrentamento.
Venho aprendendo isso, a custo de muita esquiva, protelação, sofrimento, reforçadores menores (diminuídos ainda mais por conta de uma culpa persistente por não conseguir).
Foi um processo árduo. Não é fácil ter medo e recuar quando se é considerada pelas pessoas como dotada de coragem e determinação. "Onde será que está essa coragem de que todos falam?" "Por que não consigo vencer a mim mesma?" "Por que não posso simplesmente dormir por cem anos e depois acordar com tudo pronto?"
Não vou dizer que agora me sinto muito mais corajosa. Pelo contrário, aprendi a assumir alguns medos e a não me meter mais em algumas aventuras que há pouco brilhariam meus olhos. Aprendi que a aventura não se faz só do começo. O processo de cada empreendimento precisa ser concluído, e é preciso ser forte não só para começar, mas para continuar também.
Minha trajetória rumo ao mestrado foi de muita coragem e empenho. Mas quando eu estava lá a coragem se foi, e foi muito difícil continuar. Por diversas razões. Fiquei de teimosa, ou orgulhosa. A coragem já havia me abandonado, a autoconfiança também; perder o reconhecimento das pessoas importantes para mim seria ainda pior.
Defendi minha dissertação há exatos quatro anos e meio. Mas só agora consegui enfrentar a mim mesma e à minha história e apresentar meu trabalho num congresso.
Acho que em poucas vezes na vida fiquei tão nervosa, em poucas vezes o nervosismo demorou tanto a passar. Foi bom que meu orientador não estivesse lá. Foi bom que ninguém que eu respeitasse demais estivesse lá. Foi bom ver pessoas acenando a cabeça demonstrando compreensão sobre o que eu dizia. Foi bom ouvir de uma professora, muito experiente e que eu acabara de conhecer, que meu trabalho estava muito bom e que ela gostaria de ter acesso a ele.
Já consigo acreditar que seja um trabalho bom. Já consigo falar sobre ele aos meus alunos como falo sobre a contribuição de outros psicólogos ao nosso campo de atuação.
Então no dia seguinte à apresentação do meu trabalho no congresso, sentada no alto da pedra do Arpoador, cercada de mar e beleza, envolta pelo vento, me senti livre. Acho que finalmente estou pronta pra virar essa página na minha vida.

Imagem: Pablo Picasso. Women Running on the Beach. 1922. Oil on plywood. Musée Picasso, Paris, France

23 maio 2009

Da impaciência



Incômoda.
Funcional.
Mobilizadora.
Devastadora.
Mágica.

Ai de mim se não fosse minha impaciência cíclica.


Imagem: mikeatron

17 maio 2009

Estopim



Hoje levei um tapa na cara. Uma daquelas verdades que você enxerga mas que fica escondendo de si mesmo, por incômodas que são, por não encontrar no momento maneira melhor de lidar com elas. "Seu estopim está deste tamaninho!". Note que na minha história isso não é apenas uma constatação, mas uma punição das maiores: é inadmissível, para mim e para os outros, que eu não tenha paciência.

Perdi o fôlego ao ouvir a frase fatídica. Em segundos meus olhos marejaram. Segurei, afinal chorar seria mais uma mostra do meu estopim curto. Mas isso está na minha cabeça até agora.

Meu estopim está curto porque não estou aguentando mais viver de um jeito que não quero, ouvindo e vendo coisas que me incomodam e tendo que ficar calada porque minhas ações ou palavras não teriam nenhum efeito sobre a situação. Não estou suportando me sentir avaliada - sem passar na avaliação, obviamente - por pessoas as quais já não admiro tanto. É difícil até mesmo admitir que não admiro essas pessoas. Não aguento mais não conseguir determinar a existência ou não de silêncio, de "faça" ou "deixe de fazer". Meu estopim está curto porque sou mais do que isso, porque não me cabe essa vida, porque a que me cabe não está pronta ainda. Porque ainda é necessário esforço e o pior, paciência, para que ela fique pronta. A cada momento só penso "autocontrole", como um mantra, tentando me segurar pra não jogar tudo pro alto uma vez que neste momento a alternativa imediata me parece ainda pior do que a situação em vigor. Não aguento meu quarto apertado, minha cama apertada, a poltrona apertada do ônibus, as relações apertadas, sem espaço para a expressão. Não aguento a distância de espaço e tempo que me separa dos bons momentos, daquilo que me parece confortável e aconchegante.

Meu estopim está curto sim, e se quem me falou isso soubesse o esforço que tenho feito pra não explodir, pensaria duas vezes antes de usar esse fato como uma punição. Aff.


Imagem: sxc

15 maio 2009

Morada



E na casa dos seus braços
- minha casa -
a noite é calma,
o amanhecer é belo,
seu olhar é alma,
meu sorriso é elo.

É passado o tempo de errar.

18 abril 2009

Pequenas importâncias



Minha frequência por aqui tem sido bastante instável. É um cantinho que prezo demais, mas que tenho deixado meio de lado às vezes. Gostaria de postar toda semana, mas não tenho me obrigado a isso. Tenho tido tantas obrigações que aqui quero me comportar sob controle das consequências intrínsecas. Escrever porque me faz bem, não porque seja necessário.

Nessa vida automatizada que vamos levando - que vou levando - procuro salpicar momentos de poesia, contemplação, prazeres simples. E nem sempre isso é pauta suficiente para um post. Ou até é, mas no corre-corre automático acabo me esquecendo e não escrevo nada.

Aqui, pílulas do meu dia-a-dia...

Minha flor estava doente; estou cuidando dela e parece que ela está se recuperando.

Comprei um livro da Jane Austen - Persuasion - que tinha vontade de ler desde que assisti à Casa do Lago (é o livro que une os personagens!). In english. Prazer e desafio.

Desisti dO Processo, de Kafka. Confuso demais. Quero é poesia. Comecei a ler Manuelzão e Miguilim. Estou encantada!

De tudo que comecei no ano passado, acho que só o squash continua. Bom. Finalmente consegui acertar o boast com uma certa regularidade. Quarta-feira começo o boast invertido.

Quase não comi chocolate na páscoa. Bom.

Parei de comer carne, exceto peixe.

Faltam 12 dias para que eu reveja meu amor. O calendário não sai da minha cabeça.

Descobri que o Passiflorine pode ser meu melhor amigo nas viagens BH-MOC-BH.

Meu consultório com a Fla está lindo.

Quero passar 7 dias por semana numa casa minha.

Daqui pra frente só dirijo o que for meu.

O behaviorismo ainda me encanta. A clínica ainda me desafia.

Pensei numa pergunta para o doutorado. Medo.

Quero ter um filho. Mas agora não dá.

As dúvidas e a angústia deram um tempo. A correria deve servir pra alguma coisa.

Estou tentando voltar a correr.

A troca de experiências entre uma psicanalista e uma analista do comportamento pode ser mais rica e reforçadora do que Freud e Skinner - e seus cegos seguidores - jamais puderam supor.

Hoje o dia está perfeito pra uma piscina. Vou trabalhar.

Vou trabalhar com amigos, o que compensa a falta da piscina.

Preciso de um tênis novo. Quero uma bota sem salto.

É impossível não gastar dinheiro.

Sou mais feliz sem meus cachos bipolares.

O anel prateado combina com meu dedo anelar direito. Mas confesso que fico afim de transformá-lo num anel dourado, que combinaria bastante com o anelar esquerdo.

Respeitar o tempo é uma dádiva.

Pequenas orações me fazem bem.

Música também.

A cada dia me convenço que chimi churri pode transformar qualquer comida num manjar dos deuses.

Pipoca não deveria ter caloria nenhuma. Ou ser tão necessária para o corpo quanto água.

Sair sem filtro solar já é tão estranho pra mim quanto dirigir sem cinto de segurança.

Eu já tinha trinta anos antes de completá-los. É melhor que fazer quinze.

A foto do perfil é uma piada. Estilo Sonora, sabe?

...

06 abril 2009

Acerto de contas




Então outro dia foi meu aniversário. Finalmente! Não aguentava mais aquele inferno astral... acho que esse durou mais de um mês! Me sinto bem melhor agora, e sei que os astros têm pouco ou nada a ver com isso. Muito mais prováveis são alguns dados que compilei em minha página de recados do Orkut. Vejam:

Recados alusivos ao meu aniversário: 47

Dentre eles, os seguintes votos foram deixados:

Felicidades, alegrias: 23
Tudo de bom, tudo de melhor: 16
Paz, harmonia, luz: 15
Saúde: 15
Sucesso, dinheiro, realizações, prosperidade: 14
Bênçãos divinas: 12
Amor: 11
Um dia bom, bacana, especial: 6
Sonhos realizados: 3 (abri uma categoria diferente para esse, porque os sonhos podem estar além da dimensão financeira ou profissional)
Virtudes (sabedoria, prudência, paciência): 3
Muitos anos de vida: 2


Além disso, cinco pessoas deixaram "te amo" registrados.

Não estão registrados aqui os votos que recebi pessoalmente ou pelo telefone, e não porque não sejam importantes, mas porque não me ocorreu na hora registrá-los. Ia ser bacana!

Ter em minha vida pessoas legais é uma das coisas que mais prezo. Mais que dinheiro, que conforto, que bens materiais. Esses dados parecem tirar a magia envolvida nos sentimentos de amizade e amor, mas pra mim eles acentuam tal magia, tornam-na palpável - ainda mais.

Agradeço então, mais uma vez, a essas pessoas que tornam minha vida incontavelmente mais mágica, mais alegre, mais bela. Espero que eu consiga fazer por elas um pouquinho do que elas fazem por mim!
PS: Clarinha não deixou recado no Orkut, mas escreveu um "poema" pra mim, sozinha, e me encheu de alegria e amor. Dizia assim: "Você brilha como a luz do sol. Te amo!". Não é pra ser feliz? ;)

27 março 2009

Aff!



Acho uma chatice me queixar de cansaço. Sinto como se eu fosse uma ingrata, reclamona, preguiçosa.

Mas hoje (e nos últimos dias) eu digo, em alto e bom som: ESTOU CANSADA!!! De muita coisa.



Infelizmente não sei de quem é essa imagem. Mas acho que o pintor esteve em minha casa uma madrugada dessas...

14 março 2009

Superar é preciso



Acabo de assistir ao filme "O Escocês Voador". Assisti apenas à segunda metade, o suficiente para me emocionar e pensar em algumas coisas acerca do enfrentamento, da superação e da humildade.

O filme conta a história do ciclista (escocês!) Greame Obree. (Me desculpem as imprecisões ao relatar a história; como disse, assisti apenas a uma parte do filme - coisas de quem zapeia na tv a cabo até encontrar algo que valha a pena.) Obree cresce numa cidade no interior da Escócia, perseguido e maltratado por outras crianças da cidade, no que hoje chamamos de bullying, nome novo para antiga e cruel prática infantil. Para conseguir fugir dos "inimiguinhos", Obree passa a andar em sua bicicleta cada vez mais rápido, e acaba aprendendo que essa é não só uma boa fuga, como também algo que lhe faz bem. Penso que isso pode ser enquadrado na classe de respostas de esquiva adaptativa: uma interessante (às vezes a única possível) resposta de enfrentamento.

Obree passa a fazer da bicicleta seu meio de vida: trabalha como entregador e treina velocismo, batendo recordes nacionais e mundiais.

Me chamaram a atenção os diversos momentos em que Obree é boicotado pela Federação Mundial de Ciclismo, que criava novas regras a cada nova conquista do ciclista: Obree se adaptava às novas regras buscando alterar e superar sua própria maneira de trabalhar, e vencia novamente. Superação.

Além dos entraves burocráticos, Obree ainda precisava enfrentar suas dores pessoais. Não as físicas, mas as psicólogicas. Ter sido vítima de bullying deixou marcas importantes em sua auto-imagem, em sua auto-estima; mesmo campeão mundial, Obree sofria com a depressão.

No caso de Obree, a longa história de superação não foi somente benéfica. Ele sabia que estava mal, mas sabia também que conseguiria voltar a ficar bem, bastava que se esforçasse para isso. Foram anos de altos e baixos, ora sucumbindo à depressão, ora vencendo-a temporariamente. Obree teve seu bem estar adiado por muito tempo, por não perceber que a ajuda de outras pessoas - amigos e profissionais - se fazia necessária.

Somente após chegar ao fundo de sua dor, tentando o suicídio, é que Obree admite a possibilidade de estar doente e de precisar de ajuda profissional. Aqui entrou a humildade.

A história de Obree me emocionou porque consegui enxergar nele algumas pessoas que conheço e que me são muito queridas. Enxerguei um pouco de mim também. Me tocou a luta solitária para sair da tristeza, uma tristeza persistente e lenta, que age aos poucos, minando as forças da pessoa. Senti pena de Obree, de mim mesma (do quanto demorei a identificar que precisava de ajuda quando estava mal), dessas pessoas queridas que identifico que estejam mal também. Senti vontade de fazer algo por elas, de pegar suas mãos e levá-las a um profissional, de dizer: "faça psicoterapia, isso é uma ordem". Mas sei que isso não funciona, que não adianta obrigar uma pessoa a se cuidar se isso não é uma demanda dela mesma.

Eu já me cuidei. Me sinto bem agora (há algum tempo, graças a Deus e aos profissionais que me ajudaram). Talvez o que eu possa fazer seja isso mesmo: estar bem, disponibilizando minhas mãos para quando essas pessoas perceberem a necessidade de serem puxadas e amparadas...

01 março 2009

Sêneca



"Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte.

Então, caro Lucílio, procura fazer aquilo que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias; só o tempo é nosso. A natureza deu-nos posse de uma única coisa fugaz e escorregadia, da qual qualquer um que queira pode nos privar. E é tanta a estupidez dos mortais que, por coisas insignificantes e desprezíveis, as quais certamente se podem recuperar, concordam em contrair dívidas de bom grado, mas ninguém pensa que alguém lhe deva algo ao tomar o seu tempo, quando, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou."

Da economia do tempo - Em: Sêneca, Aprendendo a viver
Imagem: Flickr

23 fevereiro 2009

Loading.....

Estou bastante sumida daqui. Nas últimas semanas venho tentando lidar com os acontecimentos e com minhas inconstâncias - emocionais, comportamentais - de maneira mais privada. Nem tudo deve ser dito, tornado público, exatamente porque ainda é processo. Estou me organizando, preparando novos momentos, buscando a concretização de projetos nos quais trabalho há tempos.
O que posso dizer neste momento é que me faz muito bem o abraço de pessoas queridas. Estreitar laços e reduzir saudades, essas que me acompanham grande parte dos meus dias, é realmente muito bom.
No mais, vou seguindo em frente, construindo meu caminho aos poucos, recuando às vezes, mudando os planos ou as estratégias, quase como uma barata tonta, mas nem tão tonta assim.

01 fevereiro 2009

38 graus



...então eu chego da janela do meu quarto e, vendo o mar em sua generosa imensidão, penso: 'que trabalho que nada, eu vou mergulhar agora... é disso que meu corpo precisa!'
E antes de sentir a temperatura perfeita da água, acordo de meu delírio concluindo que é melhor mesmo que eu não more numa cidade litorânea...

29 janeiro 2009

"Minhas férias"



Férias. Ou quarentena. Ou resguardo. Esses quarenta dias em que estive afastada do trabalho (acabei de me dar conta da quantidade e do que ela geralmente significa) me descansaram, me curaram, deixaram-me pronta para o que vem por aí.

Foram muitos encontros importantes!

O encontro com o ócio, querido, sem culpa. Dormir até mais tarde, assistir a altas besteiras na tv até não aguentar mais de sono, ler ainda um pouco antes de desmontar na cama.

O encontro com o sabor. Apreciei comidas deliciosas, sem me deixar destruir, usufruindo apenas do que elas poderiam me oferecer de positivo.

O encontro com a gargalhada. Ai, que divertido brincar como criança, rir até a barriga doer, rir de coisas simples e bobas!

O encontro com o sol e com o mar. Estar com o sol sem desejar fugir dele, estar entregue, em meio ao casamento perfeito de seu calor com a refrescância e energia das águas salgadas que custo tanto a sentir.

O encontro com o inusitado, com o mal estar, com o alerta do corpo. Aceitar o que vem, não me rebelar. Foram consequências - farei diferente da próxima vez.

O encontro com a amizade. Em longas jornadas - a pé junto à lagoa, de carro rumo ao mar, no espaço intangível mas presente da internet - aprofundando a relação, tornando-a fecunda e mais clara.

O encontro com uma história compartilhada, suas raízes, pedras, santos, talentos, atrocidades, douradas ambições, conhecimentos populares, cheiros, sabores, pernas doces, pés de moleque.

O encontro com o desejo pelo conhecimento inútil, mas não fútil ou banal. Descobrir coisas belas e suas histórias pelo simples prazer que isso proporciona, pelo reconhecimento da minha enorme limitação e pelo embevecimento ao identificar a suprema arte do outro.

O encontro com o amor. O mais belo encontro, porque de novo, porque sempre, porque real quando já quase era ponto. Porque nunca houve reticências tão concretas, porque tudo o mais veio também.

O encontro com o medo. Ele frequentemente vem. Mas o que ele não sabe é que aprendi que ele vem, inevitavelmente, e que nem por isso vou fugir ou desistir dos outros encontros. Ao contrário, o convido para vir comigo - sem medo sou um perigo!

O encontro com a paz. Uma paz forte (mas não indestrutível, ou seria estagnação), capaz de silenciar o medo em vários momentos, capaz de silenciar meus pensamentos, pausar meus sonhos, abir meus olhos para o que logo passa, para o que não será, simplesmente é.
Imagem: arquivo pessoal, impossível deletar ou copiar...

09 janeiro 2009

Momentum


Despira-se de alguns desejos, abdicara das companhias, deixara a estrada para outra hora.

Embebida de sua nova filosofia - a de viver o agora - não poderia deixar passar aquele momento. Há tempos esperava por ele.

O objeto de sua paixão, a fonte de sua energia estava ali, disponível, depois de vários dias compulsoriamente escondido pela chuva fina que caía das densas nuvens.

O sol estava lá, maravilhoso, forte, revigorante, perfeitamente acompanhado de um inebriante azul e da mais suave brisa que uma metrópole consegue prover.

Nada mais natural que entregar-se - com as devidas proteções, claro. Ainda conseguia ser prudente, apesar de apaixonada.

Levara consigo algumas companhias: sons, letras, água, óculos, chapéu, pensamentos.

Vivenciara cada minuto daquela tarde com o sol.

O traço evanescente da tecnologia no céu, as borboletas, os besouros, a garça (linda), os versos finalmente entendidos da música que ouvira tantas vezes, a praga da insônia em Macondo, o previsível mas ainda assim inevitável susto com a água gelada no corpo quase incandescente, as lembranças de outros sóis, outros sustos, outros fôlegos perdidos, os planos, feitos e imediatamente desfeitos - tenta ser alguém do presente, afinal.

Seu ímpeto era depois contar a cada um detalhes de sua deliciosa tarde com o sol.

Desistira. Era muito íntimo, absolutamente pessoal, maior que as palavras, maior que as histórias dos outros. Qualquer descrição seria pobre, qualquer recepção seria frustrante.

Então à noite, na companhia da lua (belíssima, decerto, mas não tão encantadora como o sol), prefirira o silêncio.

Momentum.


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