30 janeiro 2012

Saudade

"Longe" - Arquivo pessoal

Hoje é Dia da Saudade. 
Parei para pensar nas Saudades que sinto e nas que senti. 
A Saudade, esse sentimento que já foi para mim como uma chaga aberta, doendo dia e noite e sem data para terminar (era essa a causa da dor), agora é vivida de maneira bem diferente. Minhas Saudades agora são brandas, boas, gostosas de se sentir. Saudade do que foi bom, de pessoas que amo e que podem, sim, ter um lugar distante (fisicamente) em minha vida. 
Difícil é a Saudade daquele cujo calor te tira do frio do dia-a-dia, cujo olhar te faz sentir que a vida vale a pena, cujo abraço te faz ter certeza de que encontrou seu lugar no mundo, cujo beijo faz com que seu coração bata num compasso diferente. Saudade que aperta o peito, que tira o fôlego, que apaga os olhos. Saudade que arranca os cabelos, que rói as unhas, que entorpece.  Saudade que mata um pouco a cada momento que se passa longe, a cada vivência não compartilhada, a cada despedida. Saudade que te faz pensar que será marcada para sempre pela dor da ausência.
Essa Saudade não sinto mais. Não hoje, não atualmente. 
Nada me garante que não voltarei a sentir - parei de tentar controlar meus sentimentos. Mas minha escolha agora é pelas Saudades frágeis, facilmente aniquiláveis por um telefonema, uns minutos no trânsito, "um pulinho aí só pra te ver uns instantes".
Se vou conseguir? Não sei. Mas não saber também já não é um problema tão grande assim...

22 dezembro 2011

Feliz você novo!

A música-título do novo trabalho da Marisa Monte (diva!) me inspirou para meus votos para 2012!
Desejo que você encontre - ou vá buscar, caso ainda não tenha se engajado nessa jornada - o que você quer saber de verdade. E que ao encontrar (e também ao longo do caminho, tanto melhor) você possa perceber pequenos movimentos de paz, no mundo e em você mesmo, e que eles sejam cada vez mais frequentes e duradouros! Desejo ainda que a saúde seja a base de toda a sua caminhada!
Feliz 2012!

09 dezembro 2011

Impermanência

Dois lados - Arquivo pessoal

Notícias de morte e de gravidez sempre me impressionam, especialmente quando as recebo numa mesma semana. São, ao meu ver, expressões das mais concretas para a noções de impermanência e de renovação. E em algumas situações, como a mais recente, expressam também a incontrolabilidade dos eventos.
Falecer em decorrência de uma doença não diagnosticada, tendo passado anos tratando de outra - e estando bem perto da cura. Engravidar após anos de tratamentos mal sucedidos e numa condição de ínfimas possibilidades.
De imediato tendemos a atribuir os eventos a Deus. Talvez a explicação mais plausível que encontramos... Ou então buscamos a ciência, que por mais avançada ainda não tem o domínio de tudo (talvez nunca venha a ter, em decorrência das mudanças constantes por que o mundo passa). Mas nos últimos tempos venho aprendendo a não buscar tantas explicações para as coisas da vida. Tenho aprendido a vivenciá-las, simplesmente. A tristeza pela perda, o maravilhamento pela novidade. Sinto-me mais serena assim, e mais viva, mais conectada no mundo.
Essa é uma condição construída num processo meu, de autoconhecimento, consciência de mim e do mundo. Psicoterapia, yoga, leituras, recolhimento, integração... tudo junto produzindo uma nova maneira de me ver e de ver o mundo. Meu grande desafio é aceitar, ou aguardar o processo do outro e não impor meu olhar mindfulness

31 outubro 2011

O silêncio é de ouro...

Imagem: Arquivo Pessoal

Oportunidades demais para falar,
Mas nada importante sendo dito:
Apenas ecos do vazio
No vazio.

Será a incomunicabilidade um determinante para a inspiração?
Será melhor o silêncio refletido,
O cultivo paciente de palavras-germes?

Desconectar
Expressar o válido
O autêntico

Nem tudo precisa ser dito
(Quanta liberdade!)

23 agosto 2011

Pronto?

Imagem retirada da internet, autor desconhecido.

Mais uma prova. Clara. Claríssima.
De quantas provas você precisa para parar de vez de fantasiar e de acreditar num futuro impossível?
A árvore dos dias está seca. Morta. Cortada em sua base, raízes feridas. Nenhuma folha sequer, nem mesmo um poético tronco ressequido contrastando com o céu azul.
Nada - dinheiro nenhum no mundo inteiro, prêmios milionários, propostas indecentes - nada fará o tempo voltar.
Nada fará com que a história que não aconteceu se transforme em possibilidade, em realidade.
Pare de perder tempo!
Contente-se com o que houve. Já.
Leia diariamente o oráculo. "Não existe amor insubstituível".
Abra-se verdadeiramente para o agora.
É agora que você tem.
Esta é a sua vida, não aquela.
Chega de ladainha. Paciência tem limites.
Ah!

23 junho 2011

Polaroid

Voltinha na praça - Arquivo pessoal

Alegrias instantâneas e duradouras:

* Um brotinho na orquídea
* Flores em promoção
* Um raio de sol no edredon
* Um versinho de Quintana
* Uma xícara de capuccino
* Companhia pro almoço
* Voz de criança
* Foto antiga
* Abraço apertado
* Chamego de vô
* Risada de vó
* Notícia de saúde
* Reencontros
* Biju
* "Fique com você"

21 maio 2011

Gestão de vida

Ficar de pernas pro ar e contemplar a vida - Imagem arquivo pessoal.


Administrar o tempo para:
- Trabalhar com uma qualidade razoável, cuidando para dar aulas interessantes e significativas e ouvir atenta e sensivelmente seu cliente;
- Estudar aquele assunto que te interessa e que pode ser o início de um caminho legal lá na frente;
- Fazer contatos profissionais;
- Praticar alguma atividade física, que te permita ter consciência do seu corpo e do lugar dele no mundo;
- Cultivar amizades, novas e antigas, de preferência de perto, não virtuais;
- Alimentar-se de maneira saudável, devagar e atentamente;
- Conectar-se consigo mesmo, de maneira a se sentir presente, inteiro e indispensável;
- Ouvir verdadeiramente os planos mirabolantes, as memórias repetidas, os comentários insólitos das pessoas que você ama;
- Admirar e se deixar inundar pelo sorriso infantil dos seus sobrinhos - ou dos seus avós;
- Investir em pequenos cuidados com a casa, que é seu templo;
- Regar as plantas, acariciar a gata;
- Fazer manutenção mínima no carro, que é um de seus maiores ajudantes na correria do cotidiano;
- Cuidar só um pouquinho da estética, ali quase num nível de autocuidado;
- Consumir arte - um pouco de música, alguns parágrafos de boa literatura, para alimentar a alma;
- Dormir, porque te transporta para longe da loucura e te reabastece para mais um pouco dela.
E quem foi que falou que viver é fácil?

27 abril 2011

Diferente

Num lindo jardim - Arquivo pessoal


Tempo de redefinições, ressignificações, auto encontro, descobertas.
"Caçador de mim" já não define.
"Apaixonada" agora é meio diferente.
Parece um nascer de novo, mas já grande, sabendo andar.
A dor é menor e a recuperação é mais rápida.
O centro está bem aqui.


Ah, que delícia!

31 março 2011

Luto

Fim da madrugada - arquivo pessoal


Ele morreu.
Ele morreu há meses.
Mas por muito tempo ela o manteve vivo. Vivo-morto em sua própria vida-morta. Fotos, mensagens, vozes, objetos, buscados de tempos em tempos, como num teste para ver se conseguiria trazê-lo de volta à vida, ou trazer-se de volta à vida, mesmo sabendo que a morte tinha sido o resultado de um processo de longo e irreversível adoecimento. Irreversível? Ela se perguntava sempre...
Difícil aceitar a morte, mesmo seguindo a própria vida. Vida morta. Vida quase-vida.
Difícil acreditar que ele pudesse ter uma vida após a morte. Morreu, acabou? É assim? Dúvida e incredulidade...
Depois de muito buscar sua presença - em vão, afinal nunca seria uma presença presente, mas sim uma presença morta, presença-ausência - percebeu que a própria vida-morta que vivia se devia à morte-viva dele. Constante morte, viva em sua vida. E que de tanto cultivar a morte em vida, não tinha condições de viver a vida-viva que a esperava.
Resolveu então ritualizar a morte. Os povos são sábios: há milênios enterram seus mortos (ou descartam seus corpos, de maneiras diversas), retirando-os de suas presenças, e ritualizam a morte. Rezam, dançam, bebem. Por horas, dias, varia... Marcam o fim. Finalizam a etapa, e assim abrem espaço para uma nova.
Entrou em quarentena. Quarenta dias relembrando o início e o meio, olhando atentamente para o fim e convencendo-se de que após o fim há um recomeço. Parece loucura, olhar bem para a morte para que ela simplesmente vire as costas e dê lugar à vida. Parece ilógico - será que ao atentar para a morte ela não vai gostar ainda mais daqui e vai acabar ficando, fazendo de vez da vida-morta quase uma morte-em-vida?
Não. Melhor confiar na sabedoria milenar, transcultural e dar encaminhamento a essa morte de uma vez. Respeitar a morte - posto que é fato, visto que é natural - mas não cultuar o morto. Ele morreu. E merece também reviver em outro lugar, de outro jeito, numa nova oportunidade. Espera, sinceramente, que ele viva bem após a morte, onde quer que seja, fazendo o que fizer, da forma que for.
Mas ela quer, muito mais que isso, viver após a morte dele. Uma vida-viva, de presenças presentes, de sensações, cheiros, gostos, sons, texturas, movimentos, corações retumbantes, água, vento, sol. 
Sol.
Sol.
"Assim é você, dia de sol na minha vida nublada". ... Mas o sol se pôs. Já foi o anoitecer, a madrugada, a maior escuridão da madrugada. É momento de abrir os olhos na escuridão da madrugada e ver nascer, lenta e lindamente, o novo sol. 
O próprio sol. 
A própria vida.