19 agosto 2008

Miss Imperfeita ou Do tempo que não volta



Desde ontem venho pensando insistentemente no meu tempo. No que tenho agora e no que passou - e não volta.

Minha insatisfação com o tempo - a falta dele, o desperdício dele - está intimamente ligada à minha necessidade de perceber-me perfeita. Isso não é novidade.

Sei que para chegar minimamente perto do que eu gostaria de ser, eu precisaria usar meu tempo de maneira muito mais inteligente, muito melhor. Estudaria muito mais, por exemplo. Me dedicaria muito mais ao preparo do meu trabalho. Resolveria pendências que me acompanham há bastante tempo.
Mas teria também que reservar um tempo para ler o-que-não-é-técnico-mas-me-acrescenta, para ver um filme bacana, para prestar atenção na letra da música nova do Coldplay, ou naquela antiga do Paul, para observar as pessoas, para cultivar as relações, para fazer novas.

Teria que ter um tempo para minha atividade física - é ótimo pra alma e atua contra a lei da gravidade.

Teria que ter um tempo para saborear os alimentos, e comer aqueles que prestam, não aqueles que ficam prontos em três minutos mas tiram um ano de sua vida a cada porção.

Por outro lado, para conseguir fazer tudo isso teria que ler menos blogs. Não entraria mais aqui. Iria para o trabalho sem observar o caminho que estou fazendo e aquela namoradeira nova na janela da vizinha ou as flores amarelas do ipê que fazem da rua um belo tapete.
Entraria menos no orkut, leria menos mensagens encaminhadas (Fw:, En:) cheias de powerpoints - talvez essa parte fosse boa.

De acordo com a lógica, e com meio mundo de colegas terapeutas, melhor seria me contentar com meu lugar de pobre-mortal-imperfeita. Culpa zero, diria o tal texto supostamente escrito por Martha Medeiros. Dos males, o menor.

Confesso que ainda não consigo. Soa arrogante isso...

Quando penso na oportunidade que tive de viver exclusivamente para meu estudo, para conhecer tudo o que preciso e quero conhecer agora, não consigo não me arrepender por ter passado tanto tempo fazendo... nada. Por não ter aprendido tudo que meu mestre poderia ter me ensinado se eu simplesmente tivesse me comportado para isso, dado o primeiro passo. Por me conformar com uma rotina indisciplinada e com reforços parcos somente ao final do intervalo.

Chego a pensar na idéia de fazer de novo. Que bobagem, não será igual. Não apagará o que passou, não reconstruirá o que ficou pendente lá atrás.

Agora.
Agora.
Agora.


Imagem: Pablo Picasso - Woman with a flower, 1932

3 comentários:

Bárbara M.P. disse...

Um dos textos mais íntimos e francos que já li em um blog, Vivi.

É bom escrevermos sobre coisas tão enraizadas assim, é como falar em voz alta. Dá uma outra dimensão.

Espero que agora esteja mais tranquilinho por aí.... Essas sensações que descreveu são normais, às vezes dá vontade de apagar boa parte do que passou como se fosse desenho na areia. A qualquer hora gente olha pro horizonte e vê que o poeta estava certo e tudo vale a pena.

Vivi disse...

É, Bárbara. Esse post estava entalado na minha garganta... Ainda estou um pouco longe de considerar (sem dúvida nenhuma) que tenha valido a pena. Talvez eu duvide do tamanho da alma... Mas o interessante é que tenho me aberto para a oportunidade de fazer diferente agora, o que acaba minimizando as culpas do passado.
Ô caminhozinho árduo, né? Vou seguindo...

Graziela Marchezini disse...

Ah.. e dormir é tão boooooooooom! hehehe Sonhos podem ser reveladores e impulsionar a isso tudo o que você almeja, inclusive fazer você entender que não ser perfeito é a perfeição! Deus nos fez assim, né não, véi?!