07 dezembro 2007

A Mangueira



Desde sempre a Mangueira estava ali. Sim, sempre, se eu considerar sempre uma época que começa antes de mim (mesmo que seja somente alguns anos antes de mim). Desde o meu sempre a Mangueira estava ali. Era mais magrinha antes. Os anos se passaram e sua circunferência foi aumentando (qualquer semelhança com a raça humana não deve ser mera coincidência!). E foi aumentando também sua altura, a amplitude de seus galhos, o poder refrescante de suas folhas e o sabor de suas frutas.

Nunca comi uma manga igual às que a Mangueira nos dava. Comia lá de cima, do alto de seus galhos, tirando a casca com os dentes mesmo, num retorno a uma época em que tudo era mais simples e inocente. Eu também era! Quando nosso quarto ficou pronto pedi que minha cama ficasse perto da janela, assim poderia comer manga direto do quarto nas tardes de castigo (eram raras, mas ocorriam)!

Subia na mangueira com a agilidade de um felino, mas ao tentar descer, chorava como a Nina, morta de medo de não conseguir sair ilesa de toda aquela altura. Mas sempre saí, a despeito de alguns arranhõezinhos...

Depois parei de subir na Mangueira. Já estava grandinha. Ela passou a funcionar como protetora - do calor, da luz, dos olhares indiscretos. Atraía alguns presentes de vez em quando: picapaus, o Tanuco (um tucano que vinha comer suas mangas), lindos passarinhos, rolinhas, morcegos. Ela estava sempre ali. Já não exigia a presença das crianças em seus galhos - ela sabia que já não havia mais crianças naquela casa, afinal se passaram quase trinta anos desde que a família veio morar em seu terreno. A Mangueira só pedia agora que apreciássemos seus frutos, sua sombra. Então se esmerava a cada primavera com frutas sempre numerosas e saborosas. O desejo da família de fazer um novo quintal foi sendo adiado ano após ano.

Mas neste ano os desejos se concretizaram. A Mangueira deu adeus ontem. Certamente chorou. Deve ter sentido dor, tristeza, sensação de dever cumprido. Criou uma família!

Me senti estranha ontem. Cheguei em casa e vi só os pedaços da Mangueira espalhados pelo quintal em obras. Meu quarto desnudo, desprotegido. Mangas pelo chão, as gatas miando, estranhando o ambiente, chorando pela Mangueira na qual passavam grande parte de seus dias. É uma nova configuração, um novo momento.

Sentirei sua falta, Mangueira. Todos nós! Obrigada por tudo...

3 comentários:

Um tanto de mim disse...

A mangueira?
A do balanço?
A que foi pique mil vezes?
A mangueira? ... :(

Unknown disse...

Que vontade de chorarrrr... :o(

Dauri Batisti disse...

Árvores: que presença!
Mais do que qulquer outra. Silenciosamente presentes.
Mesmo quando imensas são discretas ao nosso lado.
Ficam para sempre, mesmo quando se vão.
Cada qual com sua história/árvore.