10 junho 2009

Virando uma página



Na vida é preciso enfrentamento.
Venho aprendendo isso, a custo de muita esquiva, protelação, sofrimento, reforçadores menores (diminuídos ainda mais por conta de uma culpa persistente por não conseguir).
Foi um processo árduo. Não é fácil ter medo e recuar quando se é considerada pelas pessoas como dotada de coragem e determinação. "Onde será que está essa coragem de que todos falam?" "Por que não consigo vencer a mim mesma?" "Por que não posso simplesmente dormir por cem anos e depois acordar com tudo pronto?"
Não vou dizer que agora me sinto muito mais corajosa. Pelo contrário, aprendi a assumir alguns medos e a não me meter mais em algumas aventuras que há pouco brilhariam meus olhos. Aprendi que a aventura não se faz só do começo. O processo de cada empreendimento precisa ser concluído, e é preciso ser forte não só para começar, mas para continuar também.
Minha trajetória rumo ao mestrado foi de muita coragem e empenho. Mas quando eu estava lá a coragem se foi, e foi muito difícil continuar. Por diversas razões. Fiquei de teimosa, ou orgulhosa. A coragem já havia me abandonado, a autoconfiança também; perder o reconhecimento das pessoas importantes para mim seria ainda pior.
Defendi minha dissertação há exatos quatro anos e meio. Mas só agora consegui enfrentar a mim mesma e à minha história e apresentar meu trabalho num congresso.
Acho que em poucas vezes na vida fiquei tão nervosa, em poucas vezes o nervosismo demorou tanto a passar. Foi bom que meu orientador não estivesse lá. Foi bom que ninguém que eu respeitasse demais estivesse lá. Foi bom ver pessoas acenando a cabeça demonstrando compreensão sobre o que eu dizia. Foi bom ouvir de uma professora, muito experiente e que eu acabara de conhecer, que meu trabalho estava muito bom e que ela gostaria de ter acesso a ele.
Já consigo acreditar que seja um trabalho bom. Já consigo falar sobre ele aos meus alunos como falo sobre a contribuição de outros psicólogos ao nosso campo de atuação.
Então no dia seguinte à apresentação do meu trabalho no congresso, sentada no alto da pedra do Arpoador, cercada de mar e beleza, envolta pelo vento, me senti livre. Acho que finalmente estou pronta pra virar essa página na minha vida.

Imagem: Pablo Picasso. Women Running on the Beach. 1922. Oil on plywood. Musée Picasso, Paris, France

2 comentários:

Judismar disse...

De fato se sentir perdendo o reconhecimento de quem nos é importante é duro. Mas por outro lado, na maioria das vezes é apenas impressão nossa. Eles não se decepcionarão conosco. Eles sabem de nosso potencial. Nós que teimamos em duvidar do que há dentro de nós.
Agora que consegue acreditar no seu trabalho, perceberá aquilo que todos ao seu redor sempre tiveram certeza.

Vivi disse...

É isso mesmo, Nessa louca estrada da vida, as pessoas tentavam me mostrar meu potencial, mas eu estava cega pelo medo e pela auto-exigência. É bom ver que eles tinham razão!
Obrigada pela visita!