13 março 2010

Aparar as sobras

Na gangorra daquela vida exaustiva de eventos mutuamente excludentes - "não por natureza, mas por circunstância", pensa rapidamente, antes que a primeira possibilidade lhe parecesse verdade - Dora passara da completa imersão no íntimo para a dedicação irrestrita ao ofício.
"Tudo que é demais é sobra". Conseguia lembrar-se nitidamente da voz da bisavó repetindo ao pé do ouvido a frase a cada vez que era surpreendida pegando mais um sequilho do tabuleiro recém-saído do forno. Estava agora exagerando nos "sequilhos" mais uma vez.
Dora está atenta. Vem buscando aquele famoso caminho do meio, no qual algumas coisas se perdem, mas quase todas se mantêm com alguma serenidade. Nada é garantido, e isso a assusta, admite. Mas se aprendeu alguma coisa com os caminhos tortos, certamente foi a habilidade de enfrentar, de se jogar, de arriscar sair derrotada, mas principalmente de arriscar vencer.

Um comentário:

César Rota Jr. disse...

Vívian! Descobri hoje seu blog, e também seus traços literários e poéticos. Adorei! Sigo em frente aqui, muito bem e feliz, com saudade de vc, claro. Mas quero deixar claro que é saudades, não falta, isso porque não há melhor sensação na vida que andar com as próprias pernas... Mas qdo for a BH te aviso pra poder te ver, ok? Bjo desse novo homem que experimenta cada passo como se fosse o primeiro e o último...